Presume-se que Jair Bolsonaro saiba por que está demitindo Gustavo Bebianno e que este saiba por que está sendo demitido, embora diga que não. Quem não sabe de nada somos nós, que engolimos a conversa que passa pela ciumeira do filho 02, pelo jogo de empurra em torno do laranjal de candidatas do PSL e pela quebra de confiança gerada por vazamentos mútuos de conversas palacianas. É evidente que há mais, possivelmente muito mais, na história dessa demissão mal contada – e até agora mal executada.
A denúncia da Folha de má-gestão dos recursos do fundo eleitoral, até como ponta do iceberg, é um ingrediente da receita, mas não o elemento suficiente. Se assim fosse, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, até agora intocado, também estaria na marca do pênalti.
Evidentemente, há muito mais por aí, como até registramos aqui ao falar dos “Milhões de motivos do P$L” na semana passada. Se as investigações pedidas por Bolsonaro sobre o próprio partido avançarem, isso pode vir à tona.
E justificaria até a suposta decisão da família Bolsonaro de tomar distância e trocar o enrolado PSL por um novo partido, uma suposta nova UDN, conforme informou o Estadão no fim de semana. Seria, quem sabe, o início de uma nova narrativa, na qual o presidente e seus filhos, insatisfeitos com as mazelas do partido pelo qual se elegeram, vão buscar outra turma.
O problema é que presidente da República não muda de partido nem de turma assim como quem troca a chuteira pelo chinelo Rider. Deixar ex-aliados magoados e bem informados no caminho é a melhor receita para a queda – e que o digam todos os que caíram na história recente do país, sempre com contribuição decisiva e muito maior de gente de casa do que de adversários.
Bolsonaro parece só agora estar percebendo isso, e não terá outra explicação para o fato de vir prolongando a novela da demissão de Bebianno desde sexta-feira, quando teria decidido em definitivo exonerar o ministro.
Só que, depois do desgaste e da série de trapalhadas que marcaram os últimos dias, não há mais solução boa para Bolsonaro. A demissão, ou até uma improvável reconciliação, será sempre uma história mal-contada, prato cheio para aliados pouco confiáveis e adversários.