Nos dois meses e pouco desse governo, a montanha russa da política vem chacoalhando entre crises, mal-entendidos, declarações bizarras, brigas compradas a esmo. Toda vez que achamos ter ultrapassado a pior queda, e que vamos finalmente entrar na normalidade, eis que ele surge: Jair Bolsonaro, a bordo de seu carrinho, preparando mais um “looping” mortal. Ele parece gostar de ficar de cabeça para baixo. Só que ninguém governa nessa posição.
Na semana em que, pelo menos em tese, a reforma da Previdência começa a tramitar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Bolsonaro abriu nova guerra com a imprensa ao reproduzir matéria que distorceu o áudio de uma repórter do Estadão com o objetivo de vitimizar a ele e sua família. E fez questão de meter a mão na disputa entre olavistas e militares no Ministério da Educação.
Isso depois do Carnaval que passou tuitando variedades, entre elas um vídeo pornográfico, e comprando briga com foliões de norte a sul. Hoje pela manhã, voltou a usar a rede social para reclamar mais uma vez que o ambiente acadêmico “tem sido massacrado pelas ideologias de esquerda”.
Atirar para todos os lados e comprar muitas frentes de briga ao mesmo tempo não é uma boa estratégia para quem quer aprovar reformas difíceis, e sequer para governar. O presidente agrada a seus seguidores, mantém o clima de campanha e anima uma parte de sua platéia. Mas ganha zero voto com isso no Congresso. E não aumenta em nenhuma alma o grupo dos que precisam apoiar a Previdência.
É de se supor que mesmo os bolsonaristas um dia comecem a enjoar da pauta ideológica ou de costumes quando perceberem que ela não vem acompanhada de medidas efetivas para resolver os problemas do país. Em boa tradução, de governo. Afinal, Bolsonaro foi eleito para governar, e não para passear numa montanha russa de crises e declarações polêmicas.
Ei, Bolsonaro, que tal, em vez de apontar a ideologização das escolas e mandar tirar figuras das cartilhas de saúde dos adolescentes, você nos diga quantas crianças brasileiras vai colocar estudando no regime de tempo integral até o fim de seu governo? Quantas creches vai criar? E o que você vai fazer quando o prazo de vigência do Fundeb, o fundo que financia a educação nos municípios, acabar junto com o dinheiro que sustenta as escolas?