A defesa de Jair Bolsonaro do fim da reeleição, a começar por ele próprio, passou despercebida para muita gente porque foi soterrada pela crise provocada por seu filho com o STF, mas o recado chegou ao principal destinatário: o establishment político, principalmente as forças de centro-direita do Centrão. O que quis Bolsonaro dizer a eles? Garantam apoio ao novo governo que 2022 será de vocês.
Pode ser sincero ou não, mas os navegantes receberam o aviso e já se articulam para dar sustentação a um eventual (e hoje provável) governo Bolsonaro. Alguns já falam até em nomear ministros e outros ocupntes para altos cargos, embora não tenhm sido convidados ainda. Mas sabem que o serão. São peça fundamental para a governabilidade do futuro governo.
Esse acordo passa pela presidência da Câmara a partir de fevereiro do ano que vem, e apesar de a cada dia serem lançadas candidaturas de cabos e capitães da nova bancada bolsonariana, o nome mais forte continua sendo o do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia. O deputado só não será vitorioso nessa empreitada se o Centrão rachar – e disso ele já está cuidando.
A aproximação Maia-Bolsonaro está sendo operada nos bastidores, já que os dois deputados nunca foram próximos. Mas o presidente da Câmara prepara gestos ostensivos de boa vontade para as semanas após o segundo turno. Um deles, colocar em votação o projeto que facilita a posse de armas para o cidadão comum, em tramitação na Casa há tempos.
Espera, com eles, obter o apoio bolsonarista à sua reeleição. Outros setores da Câmara, inclusive na oposição, tenderiam a aceitar essa solução para evitar coisa pior – ou até por ver em Maia uma espécie de fiador da normalidade. Apesar de conservador e ligado ao mercado, o deputado tem interlocução com os partidos de esquerda, e representa também uma espécie de garantia aos setores financeiros e empresariais de que sua agenda será ao menos colocada na pauta.
É evidente que essa equação ainda depende de muitas variáveis para fechar, e a principal delas é a disposição do próprio Bolsonaro de abrir mão de promessas como a de acabar com o toma-lá-dá-cá e governar com as forças da ‘velha política’ que sempre atacou. Mas talvez sua opção seja governar ou não governar.