Em política, vence sempre quem constrói a melhor narrativa, aquela que convence todo mundo mesmo que esteja a léguas da realidade. É por isso que, a todo momento, candidatos, partidos e autoridades inventam novos discursos e versões. Se colar, colou. Num ambiente eleitoral de vaca não conhecer bezerro como o que vivemos hoje, às vezes fica até fácil, além de ser útil para muita gente aumentar a confusão. Do lado de cá, cabe ao eleitor olhar com desconfiança e desmontar as versões e lorotas.
Alguns exemplos das que chegaram a emplacar nos últimos dias, alimentadas pela esperteza de alguns, mas de procedência ou veracidade duvidosos:
1. Um lote na lua: a negociação do Centrão com Geraldo Alckmin incluiu a reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da Câmara. Maia, um político que nos ultimos tempos cresceu e surpreendeu pela habilidade, é, sim, um candidato forte ao cargo. Mas antes disso precisa se reeleger deputado pelo Rio, o seu partido precisa eleger uma boa bancada em todo o país e as forças do Centrão, junto com o PSDB, têm que alcançar a maioria na Casa – se não se desentenderem e continuarem juntos até lá. Para esse plano vingar seria necessário também que Alkcmin vencesse a eleição presidencial, uma outra aposta ainda arriscada. Muita água ainda vai ter que rolar.
2. Josué Gomes não desistiu de aceitar a vice de Alckmin porque nunca aceitou. Quem conhece bem o empresário e sua família sabia que o filho de José Alencar, ex-vice de Lula, não seria vice do candidato do PSDB – embora possa, sim, apoiá-lo. Filiado ao PR a conselho de Lula, Josué foi, sim, um reluzente troféu nas mãos de Valdemar Costa Neto para ser recebido com tapete vermelho no Centrão. Foi, mas o que se diz por aí é que, se Alckmin não crescer e aparecer, Valdemar vai procurar outra turma.
3. Alguém acredita na conversa de que há um desentendimento entre Lula e o PT sobre o Plano B porque o ex-presidente insiste em ser candidato e não abrir? É evidente que não, pelo simples fato de que quem manda no PT é Lula, em primeiro lugar. Em segundo, porque ele, lá da sua cela de Curitiba, já está com a pipoca pronta quando o resto do pessoal está ainda colhendo o milho. É tudo questão de timing e, se Lula autorizou Fernando Haddad a sair por aí dando entrevistas sobre o programa do PT, é para que ele comece a se dar a conhecer como alternativa. O que é muito diferente de desistir agora da candidatura.
4. Dias Toffoli não vai soltar Lula numa canetada, nem no plantão nem fora dele. Não é preciso nem conhecer Toffoli de perto. Basta fazer um retrospecto de sua atuação do Supremo e no TSE.
5. O governo Temer não vai aprovar a reforma da Previdência depois da eleição. É outro papo furado espalhado pelo Planalto e os poucos que permanecem em sua base, talvez com intenção de mostrar que o governo ainda existe e pode fazer alguma coisa. É aí que está a dúvida, que se aprofunda a cada nova informação vazada quase diariamente do inquérito dos Portos: o que chega antes, a eleição ou o fim do governo?