Demissões de ministros em razão de candidaturas eleitorais são fatos normais na política, mas as duas que atingiram o governo Temer em menos de uma semana são bastante estranhas. No mínimo porque Marcos Pereira, do PRB, e Ronaldo Nogueira, do PTB, deixam as pastas do Desenvolvimento Industrial e do Trabalho, respectivamente, para se candidatarem a deputados. E três meses antes do prazo exigido pela lei. Será que avaliaram que ficar no governo, a esta altura, pode tirar mais do que dar votos?
Diante da baixíssima popularidade de Michel Temer e do governo, faria sentido, não fossem as deformações do sistema político vigente, que leva candidatos ocupantes de cargos públicos a se agarrarem com todas as forças aos cargos até o último momento para usar a máquina a seu favor. Deixar um ministério assim, sem mais, contraria a lógica – viciada, é verdade – dos políticos brasileiros.
É evidente que tem caroço nesse angu, talvez mais indigesto do que no do PTB de Nogueira, que hoje está em pé de guerra porque teve sua primeira indicação para substituição no Ministério do Trabalho vetada pelo ex-presidente José Sarney.
O caso do PRB consegue ser mais grave, pois tudo indica haver uma insatisfação mais profunda, sem garantias de que o partido continuará na base governista. E não só o partido. Pereira, em sua saída, pode acabar levando a Igreja de Edir Macedo e a TV Record no ano eleitoral. Nada bom para o Planalto.
Aliás, a primeira coisa que Temer e seus articuladores precisam fazer agora é afastar a forte impressão de que sua base está se esfarelando e que o governo está sendo alvo de uma debandada pré-eleitoral. Nessa situação, Previdência nem pensar. Sobrevivência passará a ser a preocupação.