As segundas-feiras costumam ser modorrentas no plenário do Senado. A sessão desse 29 de maio não destoou. Mesmo assim foi possível vislumbrar algo diferente. Da tribuna, após a ladainha de sempre contra o Ministério Público, Renan Calheiros pôs o dedo na ferida: “Cumprimento o presidente da República pela nomeação de um ministro da Justiça digno do nome”.
O elogio de Renan a Temer, coisa rara nos últimos tempos, teve pouco a ver com os defeitos do insosso Osmar Serraglio. Mas, sim, por sua falta de autoridade para enquadrar a Polícia Federal e quebrar um das pernas da Lava Jato.
A perspectiva de Renan e dos políticos enrascados em investigações sobre corrupção é de que Torquato Jardim ponha ordem na casa. Isso significa, como Aécio Neves antecipou no grampo, a escolha de um diretor da Polícia Federal com sensibilidade para escalar os delegados “João” e “José” em investigações de políticos poderosos.
Será isso possível ou apenas uma ilusão de caciques cada vez mais acuados pela Lava Jato?
Dois anos atrás, em várias conversas reservadas, Lula, Renan, Edison Lobão, Delcídio do Amaral, José Sarney, entre outros, avaliavam que Dilma Rousseff deveria trocar o ministro da Justiça e escalar alguém capaz de fazer o serviço hoje atribuído a Torquato Jardim.
Um dos nomes considerados à época para realizar essa mágica foi justamente Michel Temer. Dilma resistiu à mudança na convicção de que a Lava Jato não a alcançaria. A ficha só caiu em março de 2016, quando nomeou o procurador Eugênio Aragão para peitar a Lava Jato. Tarde demais, a fatura do impeachment já estava liquidada.
Trocar logo o comando da PF seria o primeiro passo de uma jogada que seria acompanhada da escolha, em setembro, de um procurador-geral da República menos hostil que Rodrigo Janot.
A rigor, esse jogo independe de Michel Temer permanecer ou não no poder.
A conferir.