Se algo pode dar errado, dará. Foi mais ou menos isso que, em 1948, o engenheiro aeroespacial Edward Aloysius Murphy concluiu diante de falhas nas ligações de eletrodos. Seu foco era específico.
Mas seu diagnóstico, batizado de Lei de Murphy, se tornou um grande sucesso. Um dos mais populares é o que tenta explicar porque as torradas sempre caem com a manteiga virada pra baixo.
Sua aplicação na política, na linha de engenheiros de obras feitas, virou padrão e bengala de analistas de plantão.
Às vezes, porém, por tão óbvios, nem é preciso esperar os resultados para fazer os prognósticos pelo retrovisor.
O PT escalou a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do partido, como a porta-voz do Lula enquanto ele estiver na prisão.
Gleisi é uma tarefeira que teve uma ascensão meteórica no partido. Nas últimas horas, ela foi protagonista de trombadas que em nada ajudam Lula.
No primeiro pelotão dos que devem ser julgado no STF pelo escândalo da Lava Jato, ela se sentiu à vontade para cobrar coerência da ministra Rosa Weber em uma nova votação que supostamente pode beneficiar Lula.
Sua declaração foi interpretada como inadequada até por defensores de Lula.
Em nada ajudou em um quadro ruim para Lula no STF.
Justamente por sua coerência, Rosa Weber não apoia manobras para transformar a jurisprudência do STF em um joguinho tipo iô iô iô.
Diferente da ilusão petista de que Rosa é um voto fora da curva, o que se ouve nos bastidores do Supremo é de que uma maioria bem expressiva — mesmo entre os que discordam do cumprimento da pena a partir da segunda instância – pretende jogar a decisão para o ano que vem.
Isso significa que a temporada de Lula em Curitiba será longa.
Pelas regras aplicadas a presidiários, a tática para tornar Lula um loquaz “preso político” não vai ter muito espaço.
O PT se deu conta disso. Na manhã dessa segunda-feira (9), Gleisi telefonou para o ministro Raul Jungmann. Pediu coisas razoáveis como livre acesso de governadores e dirigentes do partido à Superintendência da Polícia Federal, onde Lula está preso, para buscarem informações com os carcerários.
Ela pediu também que o ministro, chefe da PF, mandasse liberar visitas à Lula à revelia das regras judiciais. Jungmann sugeriu que ela tratasse dessa questão com o juiz Sérgio Moro. Um pouco depois ligou para Gleisi para informar que quem resolve questões relativas a acesso a presos não é Moro, mas, sim, o juiz da Vara de Execuções Penais.
Em entrevista à imprensa, Gleisi disse que Jungmann havia concordado com o drible nas regras para presidiários. O ministro não gostou e divulgou nota em que desmentiu a versão da senadora.
Na realidade, foi apenas mais uma trombada nas tratativas de advogados e dirigentes petistas com autoridades da Polícia Federal, da Justiça e do governo Michel Temer.
Da parte de Lula, os principais interlocutores foram o ex-ministro José Eduardo Cardozo e o advogado Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Seus pedidos e propostas foram repassados ao juiz Sérgio Moro, que dava a palavra final.
Acertos foram feitos e desfeitos em um processo que chegou muito próximo a dar errado. Lula quase recebeu uma prisão preventiva por obstrução de justiça. Mas nem o acordo finalmente cumprido é consenso entre as partes. Os petistas protestaram, por exemplo, pelo fato de Lula ter sido levado para Curitiba em um avião monomotor Cessna Caravan, um avião tido como lento e barulhento.
Dizem que Lula teve um tratamento de segunda categoria. Diferente de Eduardo Cunha e Antonio Palocci que foram transferidos para Curitiba a bordo do jato da Embraer RJ 145, um avião com mais conforto e melhor nível.
Os federais que participaram da negociação com os representantes de Lula dizem que foram eles que pediram para que não fosse usado o jato, com insígnia e identificação da Polícia Federal.
Na narrativa que o PT tentou construir para a prisão de Lula ele iria para a cadeia sem a produção de imagens que mostrasse isso.
Ao pé da letra, a ideia era de que, depois de ser carregado nos braços dos militantes, ele fosse abduzido no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo e, num passe de mágica, chegasse ao aposento que lhe serve de cela em Curitiba, sem qualquer registro da imprensa. Impressiona como os petistas e seus aliados ainda não entenderam que os fatos são mais poderosos do que narrativas bem ou mal construídas. O tempo em que o mago João Santana tornava o limão tão doce como uma lima acabou.
Por essas bem remuneradas peripécias, pagas com dinheiro sujo, o marqueteiro também está na cadeia, hoje em prisão domiciliar.
Ele pulou fora do barco, devolveu uma boa grana para o Estado, e entregou os personagens de suas narrativas.
Ao perderem seus talentosos autores, o PT se aventurou a criar as próprias narrativas. Ouvi de um marqueteiro contratado por eles que traduzir o impeachment como golpe era a melhor sacada para o partido dar a volta por cima.
Deu no que deu nas eleições municipais de 2016.
Por seus erros, o PT se meteu em um encruzilhada. Não sabe como sair dela.
É isso.