De nada adianta alertas de seus órgãos de informação, toda vez que eclode greve ou movimento de grandes proporções, os governos tomam um baita susto. Os filtros palacianos parecem ter como função, além de alimentar seus egos, poupar os inquilinos do poder de maiores dissabores.
Como a turma de Temer, todos os outros grupos políticos foram pegos de surpresa com a força do movimento dos caminhoneiros. Nenhum deles previu, nem de longe, o caos gerado nos transportes em geral e a ameaça de colapso no abastecimento de mercados, feiras e postos de gasolina.
Jair Bolsonaro foi o único presidenciável que, na véspera da paralisação, gravou um vídeo de apoio ao movimento. Puxou um coro que, nos dias seguintes, deu a impressão de que a direita surfaria sozinha na greve. Decano na Câmara dos Deputados, Miro Teixeira estranhou a empolgação de notórios parlamentares da direita com os caminhoneiros. Ficou ainda mais desconfiado quando soube que o movimento estaria sendo turbinado pelos donos das transportadoras: “Isso não é uma greve, é um locaute”.
Apesar dos líderes dos caminhoneiros negarem qualquer intenção política, teve grevista, aparentemente por conta própria, divulgando nas redes sociais que seria o prenúncio de uma intervenção militar. Foi o suficiente para alguns outros baterem bumbo.
Se a direita saiu na frente, as esquerdas se apressaram para também faturar. Na quarta-feira (23), a Frente Brasil Popular, que reúne partidos, sindicatos e os mais variados movimentos sociais, divulgou nota de apoio a greve dos caminhoneiros. “A responsabilidade pela escalada nos preços dos combustíveis está no governo golpista e na política de desmonte da Petrobras”, justificou.
Por mais que, depois da Lava Jato, soe estranho o PT atribuir a outrem o desmonte da Petrobras, deputados petistas usaram essa ,mesma alegação para dar apoio aos caminhoneiros. Carlos Zarattini pediu a cabeça de Pedro Parente. “Golpistas em ataque de pânico não sabem o que fazer”, comemorou Paulo Pimenta, líder do partido na Câmara. O P-Sol foi na mesma toada. “Governo tremeu e correu. Pedro Parente arregou e vai diminuir em 10% o preço do diesel. Perceberam rápido que a greve tem potencial para derrubar o governo antipopular, moribundo e corrupto de Temer”.
Os tucanos também entraram na onda. “Antes de mais nada tem que demitir o Pedro Parente. Sua postura arrogante pôs em xeque a autoridade presidencial”, avaliou o senador Cássio Cunha Lima, depois de conversar com outros colegas do PSDB.
Enquanto Temer, atônito, pensava como ganhar tempo, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira o atropelaram. Primeiro, com a proposta de zerar a Cide para o Diesel em troca de cortar a redução de impostos nas folhas de pagamento de alguns setores econômicos. Depois que o próprio Parente anunciou a redução de 10% no preço do Diesel a ser praticado nos próximos 15 dias, Rodrigo Maia, ainda presidenciável, pegou corda. Para desespero da equipe econômica, ele comandou a aprovação pela Câmara, em troco da mesma reoneração das folhas de pagamento, de uma proposta que zera a cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel até o final do ano.
Toda vez que o marketing palaciano bola alguma coisa para tirar Temer das cordas, a realidade bate forte e o põe de novo na lona.
Até parece carma.