Caminhoneiros confrontam Temer 

Caminhoneiros protestam contra preço do diesel na rodovia BR-040, em Duque de Caxias. Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

O governo Temer é, cada vez mais, uma ponte para lugar nenhum. A greve dos caminhoneiros entra nesta quinta-feira, 24, no 4º dia com impactos fortíssimos em todo o país, e combustível suficiente para causar estragos além das estradas. A paralisação, que começou contra a alta do diesel, contra a perigosa ciranda que virou a política de combustíveis “regulada pelo preço no mercado internacional”, lembra, pelo caminho das estradas, o início dos protestos de 2013 contra um aumento de 20 centavos nos ônibus e metrôs de São Paulo – e que deram na eclosão de uma série de graves protestos nacionais.

O presidente Michel Temer. Foto Wilson Dias/Agência Brasil

Ainda é cedo para comparar os movimentos em dimensões, motivações e circunstâncias, mas, como se diz, depois que um pavio é aceso, é difícil alcançar o rastilho de pólvora. E o que não falta é ambiente para isso nesse país que vive cheirando a enxofre.

A inteligência do governo – vamos chamar assim -, visivelmente subestimou que, em poucos dias, 23 estados brasileiros mais o Distrito Federal pudessem estar reféns de um movimento sindical não-petista. Já é a maior paralisação do governo Temer, que pediu uma trégua, mas não conseguiu até agora dobrar os grevistas de ideologia incerta.

A Petrobras chegou a anunciar na noite desta quarta, 23, a redução do preço do diesel em 10%, valor congelado por 15 dias, mas soou como um sopro em um prédio em chamas. A essa altura, os  Correios suspenderam entregas agendadas, e alguns aeroportos só têm combustível para esta quarta-feira. Há impactos na produção e distribuição de alimentos, enquanto supermercados e postos de combustíveis em vários estados enfrentam dificuldades para repor os produtos.

No Rio, de onde escrevo, como em outros estados, revemos uma cena de guerra que há muito era esquecida: há grandes filas em todos os postos no desespero dos motoristas de serem pegos de tanque vazio. As empresas de ônibus reduziram as frotas nas ruas por falta de diesel e a circulação nas principais capitais do país será afetada fortemente nesta quinta-feira.

Caminhoneiros protestam contra preço do diesel na rodovia BR-040, em Duque de Caxias. Fernando Frazão/Agência Brasil

No Rio, 40% da frota de ônibus do estado já não circulou nesta quarta-feira e os BRTs – hoje artéria importante no deslocamento entre bairros distantes – terão amanhã frota reduzida pela metade. Em São Paulo, a prefeitura afirmou que cerca de 40% da frota de ônibus da cidade não deve circular nesta quinta. Ao mesmo tempo, caminhoneiros ocuparam os acostamentos de principais rodovias como BR-101 Norte; BR-493; BR-116; BR-101 (Niterói, Manilha e Rio-Santos); BR-393; BR-465 e BR-116 Norte.

Por trás da surpreendente greve não está nenhuma central sindical conhecida ou associação que esteja no catálogo dos movimentos paradistas de esquerda, mas a Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros) – cujo sucesso da greve, curiosamente, é, neste momento, celebrado pela direita e visto com suspeita por gente da esquerda. Não, não sei dizer se a greve da Abcam tem um componente político e a quem beneficia. Certamente prejudica o governo. Segue e Temer está absolutamente acuado.
Pedro Parente, o “redentor” da Petrobras, era a imagem do executivo constrangido após se reunir com os caminhoneiros.
O pré-candidato presidencial, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, manifestou interesse em reduzir a alíquota da Cide, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. A Abcam só viu bravatas. O presidente da associação, José da Fonseca Lopes, tem gravado vídeos no youtube para ditar suas regras. Nos vídeos, parece um boneco de posto dublado, mas fala duro. Quer a eliminação da Cide e PIS/Cofins sobre combustíveis, além de uma mudança na política de reajuste de preços, que, na avaliação da categoria, deveria ocorrer a cada 90 dias. A Abcam só faltou indicar seu candidato a presidente.
Santana do Livramento 23/05/2018 Greve dos Caminhoneiros na fronteira com Brasil/Uruguai. Foto Marcelo Pinto/APlateia

Hoje há 1 milhão de caminhoneiros autônomos em todo o país, e a Abcam diz representar cerca de 700 mil caminhoneiros, 60 sindicatos e 7 federações.  Se isso for verdade estamos diante de um projeto de Johnny Kovak, o líder do Sindicato Interestadual dos Caminhoneiros (Federation Interstate Truckers) que, nos Estados Unidos dos anos 30, inflou tanto que se aliou à máfia. “Chegamos ao limite! Não dá mais para sustentar tamanho descaso com a sociedade e principalmente com o transporte brasileiro”, ameaça José da Fonseca Lopes, no vídeo, dedo em riste. O juiz Marcelo Rebello, da 16ª Vara Federal do Distrito Federal, determinou a liberação de seis rodovias federais e autorizou o uso de força policial. É a senha para mais barulho a partir desta quinta. E vocês achando que o problema era o MTST de Boulos… Como diz aquela famosa frase de boleia de caminhão, “Quem anda apressado, passa por cima do que precisa”.

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