Por mais que pareça melhor do que nada, para quem acompanhou a novela com acordos, desacordos, recuos e arremedos na reforma política, o desfecho é mais do menos. Ou menos do mais. Tanto faz.
Quem assistiu às longas sessões da Câmara, especialmente nos últimos dois dias e duas noites, viu capítulos de um espetáculo que retrata o fim de festa de um modo de fazer política em que quase todos se lambuzaram. E não sabem como se limpar.
O plenário da Câmara já foi palco de momentos memoráveis e também de espetáculos deploráveis. Durante a ditadura, sempre que o regime militar queria impor novas regras autoritárias, com o aval do Congresso, às vezes conseguia sensibilizar uma parcela parlamentar que temia pancadas ainda maiores.
Foi assim em 1977, quando tentou impor uma reforma do Judiciário. Uma banda do MDB até vacilou, mas a maioria da bancada, em uma decisão histórica, deu uma basta à chantagem.
Teve consequência. Com receio de exibir fraqueza para a linha dura que o pressionava, o general Ernesto Geisel baixou o Pacote de Abril, derradeiro ato autoritário que conseguiu emplacar.
Era um tempo em que, antes de votar, deputados e senadores pesavam qual seria a reação dos militares que mandavam no país.
Agora o fantasma é outro. Bem mais democrático. É a Justiça.
Nas longas sessões da Câmara nos últimos dias ocorreu um esforço conjunto de líderes de esquerda, direita, centro e assemelhados para aprovar tópicos de uma reforma política à prestação.
Diziam que as coligações proporcionais seriam uma das principais causas da roubalheira generalizada em que se meteram. Portanto, acabar com elas seria uma maneira de higienizar a política no Brasil.
Ok, quando? A partir das eleições municipais de 2020. Não vale, então, para a eleição deles próprios ano que vem. Só na reeleição em 2022, se antes não mudarem, mais uma vez, as regras do jogo eleitoral.
Mesmo assim, só conseguiram aprovar essa suposta higiene futura com oradores de todas as correntes políticas se revezando na tribuna para ameaçar que, se não a aprovassem, o Supremo Tribunal Federal ou o TSE imporiam a mudança para as eleições de 2018.
Quer dizer, a gente faz de conta que muda agora para evitar que a Justiça meta o bedelho. Depois, a gente vê como é que fica.
Reforma de mentirinha.
A conferir.