O PMDB é um partido de caciques regionais que se unem e se dividem em um pêndulo sempre influente na política brasileira. Esse modo de ser costuma confundir aliados e adversários. É comum a dúvida sobre com quais pedaços do partido se está efetivamente negociando.
Se causa espanto ao olhar externo, gera também perplexidade interna a feroz disputa entre eles por nacos de poder. É um jogo intrincado com epicentro nas bancadas parlamentares. É dali que saem consensos, rachas e reviravoltas de todos os tipos.
A grosso modo, seus polos principais são as turmas da Câmara e do Senado. Às vezes, elas até jogam juntos; na maioria dos embates, um tenta passar a perna no outro.
Entre rasteiras e beijos, estão todos no governo Michel Temer. Temer sempre foi bancado pelo PMDB da Câmara. Mas só conseguiu chegar ao Palácio do Planalto pelo apoio da turma do Senado, onde teve que dançar conforme o ritmo imposto por Renan Calheiros.
Só que o reinado de Renan acabou. Seu sucessor natural na presidência do Congresso é Eunício Oliveira, líder do partido, um político que antes de ser senador ganhou musculatura como deputado e aliado de Michel Temer.
Eunício hoje é cardeal no Senado. Trabalha para ser candidato único à Presidência do Senado. Pode até dar certo. Tem o apoio ostensivo de Michel Temer, que conta as horas para se livrar de Renan.
Conta também com a ajuda do próprio Renan, mesmo com uma pontinha de desconfiança. Renan adora fazer o papel de esfinge. Acena para Eunício, mas sua turma pega pesado contra ele nos bastidores.
O que eles dizem? Eunício não sobrevive ao avanço das investigações da Lava Jato, sua família sabe disso e o pressiona para sair do páreo, ele não tem traquejo político para enfrentar o tsunami que vai invadir o Congresso em 2017….
A Os Divergentes, Eunício fez questão de esclarecer que sua família, nascida e criada no ambiente político, não faz pressão alguma para ele desistir de concorrer à Presidência do Senado. Eunício repetiu que não tem medo da Lava Jato. “Não negociei emendas, não autorizei ninguém a negociar por mim, e minhas empresas não têm contratos com a Petrobras”.
Mas para parceiros de Renan, enfim, talvez fosse melhor um nome alternativo, capaz de unir o PMDB no Senado. Quem seria? O preferido é Raimundo Lira. De acordo com essa turma, Lira estaria fora do foco da Lava Jato. Depois de um longo período afastado da política, ele voltou como suplente de Vital do Rêgo, hoje ministro do TCU e esse, sim, enrolado na Lava Jato.
Raimundo Lira não parece interessado em entrar em bola dividida. Ele diz que não há hipótese de vir a disputar com Eunício. Seu objetivo é ser líder do PMDB, caso Renan não entre no páreo.
Na realidade, o que Renan e seus aliados mais chegados receiam é a perda de influência no Senado para a dobradinha entre Eunício e Temer.
A conferir.