O jogo de Aras para driblar a agenda ultraconservadora de Bolsonaro

Quem conhece o novo PRG aposta que em três meses ele se desgarra do Planalto mas, com sua ginga baiana, vai preservar a boa relação com Bolsonaro

Quem conhece bem Augusto Aras assegura que ele surpreenderá aos que apostam numa Procuradoria-Geral da República alinhada ao Palácio do Planalto.  Alguns ficaram com essa impressão durante seu périplo por poderosos gabinetes em Brasília. Ele encantou senadores ao dizer mais ou menos o que eles queriam ouvir e com  promessa de atendê-los sempre que desejarem, ou necessitarem. Com essa mesma habilidade, em meia dúzia de conversas, convenceu Jair Bolsonaro de que era a melhor opção. “O baiano é muito maneiroso e sabe levar na conversa mole. É assim que ele vai tocar o barco, mas não esperem que ele seja um novo Brindeiro, nem contem com ontem com ele para nenhuma pauta absurda ou que o ponha em confronto com o Ministério Público”, afirma um amigo de Aras de longa data.

Augusto Aras foi empossado nessa quinta-feira (26) no Palácio do Planalto. Durante a cerimônia, Jair Bolsonaro disse o óbvio ao afirmar que o Ministério Público continuará “altivo, independente, e, obviamente, extremamente responsável”. Em seguida, apresentou a conta bem embrulhada em um pacote de presente: “Peço a Deus que ilumine o doutor Aras, que ele tome boas decisões, interfira onde tenha que interferir e colabore, como sei que é da tradição dele, com as boas políticas de interesse do nosso querido Brasil. Todos nós ganhamos com essa indicação”.

Onde exatamente Bolsonaro não quer interferências do Ministério Público, como proclama desde a campanha eleitoral, é em questões relativas ao Meio Ambiente, terras indígenas, trabalho escravo e na defesa que considerada exagerada das diversas minorias.  Nas conversas particulares, Aras pode até ter deixado a impressão de concordância com essa agenda,  que seria uma grande reviravolta na atuação tradicional do Ministério Público. Mas amigos e colegas afirmam que não há a menor chance dele fazer isso numa instituição conturbada  organizada em moldes de autogestão.

O próprio Aras, em seu discurso de posse, fez questão de enfatizar que é papel do Ministério Público “induzir políticas públicas econômicas, políticas públicas sociais, em defesa das minorias, e, acima de tudo, que tudo se faça com respeito à dignidade da pessoa humana”. Mais do que contraponto, é um aviso dos próprios limites para quem senta na cadeira de procurador-geral da República.

Um amigo de Aras não dá três meses para ele se desgarrar do Planalto. Sua previsão é de que isso ocorra sem maiores turbulências, com ele mantendo boa relação com Bolsonaro. Essa ginga baiana pode ser eficaz. Resta saber se ela vai funcionar com Jair Bolsonaro, que não tem nenhum jogo de cintura.

A conferir.

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