O faz de conta de Renan para emplacar aliados em todos os governos

Senador Renan Calheiros

Às vezes fica difícil entender que profissionais na arte do convencimento sejam capazes de acertos e erros tão díspares. Será que o sucesso de ilusões criadas nublam o fingir em mentiras descaradas? Além de alimentar um belo folclore, com histórias interessantes, o disfarce de intenções e gestos tem sido eficaz. Essa é a chave que faz com que caciques políticos se apeguem a posturas e comportamentos no mínimo arriscados.

Em outros tempos, isso poderia ser interpretado como esperteza política. Hoje, é apenas anacrônico. Renan Calheiros, por exemplo, adora ser protagonista desse surrado papel. Desde outros governos, ele afirma que não indica ninguém para cargos executivos porque, como presidente do Senado, tem de preservar sua independência. Sabe que não cola. Mesmo assim, insiste.

Ele sempre negou ter, no governo Dilma Rousseff, indicado o engenheiro Vinícius Lages para o Ministério do Turismo. Mas bastou ele ser demitido para Renan ensaiar represálias contra o governo. Sua última não indicação é a do deputado Marx Beltrão (PMDB-AL) justamente para o Turismo. A escolha pegou mal, por causa de uma ação penal no Supremo Tribunal Federal, no qual o deputado justifica ter, como prefeito de Coruripe (AL), cometido um crime com a velha desculpa de que assinou sem ler. Diz ele que seu pecado foi confiar em sua assessoria técnica, a alegação de sempre.

O Palácio do Planalto sua a camisa para conseguir se livrar de Beltrão sem bater de frente com Renan, o que dizem não ser conveniente na reta final do julgamento do impeachment de Dilma no Senado.

Na costura palaciana, essa vaga ministerial está destinada, ao mesmo tempo, à Renan e à bancada do PMDB na Câmara. Daí a opção pelo enrolado Beltrão. Os deputados não estão nem aí. Em público, Renan dá de ombros como se não fosse com ele.

Renan ama um jogo de véus. Nas três vezes em que presidiu o Senado sempre trabalhou nos bastidores e negou em público a intenção. É assim também que age na briga por nacos de poder. Em 2013, Dilma concordou em nomear um nome do PMDB do Senado para o Ministério da Integração Nacional. Renan indicou Luciano Barbosa, ex-prefeito de Arapiraca. Seus colegas não gostaram, Barbosa foi descartado. E Renan disse o quê? Não tinha nada a ver com isso.

Só que, em 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso, quando mais um escândalo tirou o ex-senador Ney Suassuna do Ministério da Integração Nacional, foi escolhido para substituí-lo o mesmo Luciano Barbosa, então apenas secretário de Finanças de Arapiraca, nomeado por sua esposa, a prefeita Célia Rocha. Claro que Renan também nada teve a ver com isso.

 

 

 

 

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