Planalto teme ‘Efeito Delcídio’ sobre Eduardo Cunha

Delcídio e Cunha - Foto Orlando Brito

O ex-senador Delcídio Amaral (PT-MS) era amigo de fé, irmão camarada do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Até o momento em que ele foi gravado oferecendo um plano de fuga amalucado a Nestor Cerveró — aquele diretor da Petrobras que estava preso por corrupção na Operação Lava Jato.

Encarcerado por tentar obstruir a Justiça, Delcídio contava com a mão estendida dos amigos do Senado, especialmente de Renan Calheiros. Mas os senadores e Renan lhe faltaram. Não só endossaram a prisão como aprovaram depois a cassação de seu mandato.

Delcídio virou então inimigo mortal de Renan, a quem acusou, em delação premiada, de integrar “um time” de corruptos com outros senadores. A turma, segundo ele, usava o Ministério das Minas e Energia, a Eletrobras e a Petrobras para arrancar propinas. Uma acusação que rendeu novo pedido de inquérito contra o presidente do Senado feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Pois é. Amigos quando se sentem abandonados podem se transformar em ferozes inimigos.

E é este o temor do momento no Palácio do Planalto com relação ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Cunha acreditava que teria o apoio total do governo a seu candidato a presidente da Casa, Rogério Rosso (PSD-DF), depois que jantou com o presidente da República em exercício, Michel Temer.

Naquele jantar, deixou claro a importância de eleger um amigo na Presidência da Câmara, a fim de protelar sua cassação ao máximo até obter a transferência do processo contra sua mulher e a filha, de Curitiba para o fórum do Rio de Janeiro.

Temer chegou a pedir ajuda ao presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), mas os deputados tucanos não aceitaram. Eram intransponíveis as resistências no PSDB, no PPS e no DEM, e ainda apareceu o problema da eleição do oposicionista Marcelo Castro (PI) como candidato oficial da bancada do PMDB.

O Palácio do Planalto viu-se, então, obrigado a apoiar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), um deputado que já foi próximo a Eduardo Cunha, mas depois se afastou.

Agora o ex-presidente da Câmara não sabe se terá como adiar sua cassação por muito mais tempo. Se não conseguir e vir sua esposa e filha presas, provavelmente se sentirá tão abandonado pelos amigos do Planalto quanto Delcídio vem se sentindo pelos amigos do Senado.

E sabe-se lá, então, o que Eduardo Cunha poderá delatar.

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