O enxame de mariposas no holofote de Bolsonaro

Quem olha de fora imagina que o bate-cabeça no entorno de Bolsonaro é sintoma de quem não se preparou para chegar ao poder. São erros primários. Alguns espantosos como o festival de bobagem endossado pelo próprio Bolsonaro sobre política externa. Mas também há vida inteligente em equipes que há algum tempo vêm desenhando um modelo minimamente racional para a nova gestão.

Os grupos de trabalho em Brasília, com técnicos e especialistas em variadas áreas da administração, reunidos sob o guarda-chuva de generais, empenhados na transição, querem baixar a bola. Na ótica deles, é preciso entender que a campanha, por mais que petistas e bolsonaristas continuem se engalfinhado, acabou. É hora de se preparar para governar.

Economista Paulo Guedes. Foto André Valentim/Divulgação

Além deles, tem a turma do mercado, pilotada por Paulo Guedes, que foca em destravar a economia, mas chega com muitas certezas, pouca experiência na maquina governamental, alguma arrogância, nenhuma humildade. Mas conta com o vento a favor. Se não derrapar, vai ser o carro-chefe do governo.

O outro grande polo será a equipe de Sérgio Moro com aposta forte no combate à corrupção e ao crime organizado. Evidente que gera alguma tensão com o Congresso, em que, mesmo enfraquecidos, conseguiram sobreviver deputados e senadores que morrem de medo da Lava Jato. Eles vão tentar resistir ao avanço de novas leis contra a impunidade e a corrupção. Mas se não conseguiram enquadrar a turma de Moro nem quando davam todas as cartas no Congresso, com a nova composição da Câmara e do Senado é que não terão nenhum sucesso.

Por essas grandes linhas, Bolsonaro tem tudo para começar bem o seu governo. O problema é que, até agora, entre parlamentares eleitos e fortes candidatos a postos importantes no Executivo, muitos se sentem à vontade para expor suas próprias ideias como políticas do futuro governo. Como não há filtro, prevalece a balbúrdia.

 

Marcos Cintra. Foto Agencia Brasil

Bolsonaro, além de pisar na bola sobre coisas que ainda não domina, ainda não conseguiu brecar quem se arvora em  porta-voz de controvertidas medidas em seu governo. Na entrevista à Band na segunda-feira (5), Bolsonaro ameaçou cortar cabeças dos que, em seu nome, defende propostas contrárias ao que ele pensa. O alvo específico da ameaça é o economista Marcos Cintra, da equipe de Paulo Guedes, que insiste na recriação de um imposto sobre movimentações financeiras, que tem dado urticárias em Bolsonaro.

Mas o recado de Bolsonaro, pelo menos na visão de otimista de sua retaguarda em Brasília, tem um alvo maior, os que estão batendo cabeça em várias frentes. A todos eles, caberia a crítica de Bolsonaro na mesma entrevista a José Luiz Datena. “Tem algumas pessoas que não podem ver uma lâmpada para se comportarem como mariposas”.

Mariposas são insetos que voam em direção a qualquer luz artificial, a fototaxia. Em tsunamis como a das eleições em que pessoas desconhecidas, surfando na onda Bolsonaro se elegeram governadores, senadores, deputados federais e estaduais, a fama instantânea deslumbrou a muita gente.

O mesmo fenômeno ocorre com quem ajudou na campanha e se sente vitorioso. Eles merecem usufruir desse estrelato.

O problema é que algum deles, que mal apresentaram qualquer proposta na campanha, se sentem agora donos de ideias que consideram geniais. E as expõem sem nenhum constrangimento. Para desespero dos que tentam pôr um mínimo de ordem na casa.

A expectativa de generais e de suas tropas na equipe de transição é que a passagem de Bolsonaro por Brasília ajude a baixar a bola das mariposas.

A dúvida é se Bolsonaro também está disposto a descer do palanque.

A conferir.

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