Torquato Jardim virou um fio desencapado. Ele foi escalado para o Ministério da Justiça como peça chave para barrar a Lava Jato.
Por esse script, seu primeiro ato seria trocar o comando da Polícia Federal. Ao chegar, ele até alimentou essa expectativa. O tempo passou, mas tudo continuou igual. Desistiu da mudança.
TJ, como é chamado nos zaps internos no governo, aos poucos foi-se distanciando do que os palacianos esperavam dele. Não estava ajudando, mas até essa semana atrapalhava pouco.
Era tido apenas como muito vaidoso, alguém que se acha dono da verdade, e chamado entre os colegas de Dr Sabe Tudo. Tipo um cara meio pancada, mas protegido pelo chefe Michel Temer, que gosta dele.
Na segunda-feira (30), Torquato Jardim deu a primeira paulada. Na contramão da base governista e de ministros do STF interessados em cortar as asinhas da Lava Jato, bateu forte.
Saiu em defesa da aplicação de pena a partir da condenação em segunda instância, questão crucial para o futuro da Lava Jato. “A alegada motivação política não fica bem para a biografia do Supremo. Sou a favor do recolhimento na segunda instância. Deve-se manter a decisão anterior”, afirmou o ministro da Justiça, para surpresa dos aliados do governo.
Era tudo o que os caciques governistas e seus colegas no Palácio do Planalto não queriam ouvir. A cobrança foi pro caderninho para quando Michel Temer retornasse do tratamento de saúde em São Paulo.
Aí, todos eles foram surpreendidos mais uma vez. Nessa terça-feira (31), em entrevista ao craque Josias de Souza, Torquato Jardim deu uma paulada muito mais forte com repercussões ainda não dimensionadas.
Para espanto dos ministros Raul Jungmann (Defesa) e Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), seus parceiros nas tratativas com as autoridades do Rio de Janeiro para o enfrentamento do crime organizado, TJ chutou o pau de todas as barracas erguidas com o apoio do governo federal no Estado.
Na avaliação em Brasília, ele conseguiu a proeza de não deixar pedra sobre pedra. Detonou o governo Pezão, seu secretário de Segurança, as polícias do estado, os comandantes da PM, os escalões intermediários, disse que estão a serviço de uma parceria entre deputados e o crime organizado….
Mesmo que até tenha alguma razão, porque a promiscuidade no Rio de Janeiro ultrapassou todos os limites, ao generalizar, Torquato Jardim, mais do que cometer eventuais injustiças, fechou portas na desconfiada parceria entre autoridades de segurança do Rio de Janeiro e do governo federal.
Não dá para mantê-las assim. Na berlinda, Michel Temer vai ter que destravá-las.
A cabeça de Torquato Jardim está na bandeja.
A conferir.