Sai o pinhão, entra o chimarrão

Minhas redes sociais me lembraram, neste momento em que já se respira urna, que esta foi a capa da Veja, dois anos atrás. É o que se pode chamar, parafraseando o senador Romário, ao se referir, por outra razão, ao mesmo veículo, de uma coisa cretina. Não que faltem precedentes à revista-locomotiva da Abril.

Se a Justiça é cega, mas não surda-muda – como deixam evidentes os recentes embates entre os ministros-gladiadores no coliseu do STF -, ela deve ter prestado atenção que pesquisas de todas as estirpes mostram que, se a profecia vejiana não se concretizar, Lula tem fortes chances de conquistar seu terceiro mandato daqui a um ano. Ele lidera em todos os cenários e tem uma consistente dianteira nas pesquisas espontâneas, como reforçou em artigo Rudolfo Lago. E seu maior opositor, no momento, é um sujeito que faria corar o alemão mais empolgado do Terceiro Reich.

Se Lula já está ouvindo a voz estridente das ruas, em suas caravanas sequenciais, aguarda agora o rumor da Justiça. E há sinais, inclusive no Olimpo, de que, se os homens de toga já assumiram de vez seu viés político, é melhor puxar logo a corda pra vencer este cabo de guerra. Na segunda, 30, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, veio a público defender que o STF mantenha a regra atual, levando quem foi condenado em segunda instância à cadeia. A Corte pode mudar essa decisão. “A alegada motivação política não fica bem na biografia do Supremo”, fustigou o bacharel do UniCeub.

É que, além de não mandá-lo automaticamente para a prisão, a condenação do ex-presidente a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz federal Sergio Moro, em julho passado, não tirou o petista da disputa da eleição presidencial de 2018. Como Moro é juiz de primeira instância – tem gente que esquece isso -, sua decisão não basta para que a candidatura de Lula seja barrada pela Lei da Ficha Limpa. É preciso barra-lo em segunda instância, ainda que o petista não precise vestir o uniforme desenhado por Veja. Não à toa, Moro tem recentemente derramado elogios ao Supremo, que para ele teve sensibilidade para perceber que “justiça sem fim é justiça nenhuma”.

É nesse contexto que a futura decisão dos desembargadores do TRF4 na Lava Jato ganha ainda mais peso, transformando João Pedro Gebran, Leandro Paulsen e Victor Laus nos grandes eleitores – se me permitem a liberdade poética e democrática – desta pré-campanha. Eles irão julgar o recurso de apelação criminal da defesa de Lula. Certamente antes das eleições.

Para botar mais farinha nesse pirão político, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, ao qual o ex-presidente Lula recorreu dizendo que está sendo vítima de perseguição pelo Poder Judiciário, decidiu examinar o caso. Há uma boa chance de que a decisão saia em 2018, coladinha na mãe de todas as eleições.

Assim, saem de cena Brasília e Curitiba, e Porto Alegre vai assumindo como capital até 2018. Qual o gosto desse chimarrão, vai depender da erva mate que se use – aliás, xeque-mate.

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