Desde o Mensalão, quando foi pego em flagrante com a mão na botija, o PT se especializou em inventar narrativas para explicar o injustificável. Começou na famosa entrevista de Lula em Paris, em que ele reconheceu a prática de Caixa 2, em jogo combinado com aliados e cúmplices para tentar pôr de pé uma versão minimante defensável.
No mesmo momento do tal mea culpa de Lula, Delúbio Soares dava entrevista a Globo também reconhecendo pela primeira vez o tal Caixa 2, e eu, repórter da revista Época, recebia do lobista Nilton Monteiro os comprovantes do dinheiro sujo de Caixa 2 na campanha à reeleição de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais – o menos famoso mensalão tucano.
Tudo foi divulgado no mesmo fim de semana. Fizemos uma força tarefa na Época e o que a gente comprovou, publicou. Só depois apurei que tudo fazia parte do mesmo pacote.
Ali, no auge da apuração na CPI dos Correios sobre o escândalo do Mensalão, o PT conseguiu seu propósito de assustar os tucanos. A partir dali, os petistas sempre se deram bem nos bullings contra o PSDB. No segundo turno da campanha de 2006, espalharam que Geraldo Alckmin venderia a Petrobras,o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, e o tucano passou recibo, aparecendo de boné e jaqueta com adesivos de empresas estatais. Cena tão ridícula quanto a da sua primeira foto no segundo turno com o rejeitado Anthony Garotinho.
Com a ajuda de bons marqueteiros, pagos a preço de ouro, as campanhas presidenciais petistas usaram e abusaram das fake news. Por exemplo, sempre apresentaram os adversários de Dilma Rousseff como encarnações do mal que acabariam com os programas sociais e tirariam a comida da mesa dos pobres.
Conseguiram se safar em 2014, quando a Lava Jato ainda era incipiente. Quando a realidade dos fatos atropelou a fantasia marqueteira, o mundo petista começou a cair. O primeiro grande tombo foi o impeachment de Dilma Rousseff, flagrada em escancarado estelionato eleitoral. Foi mais uma oportunidade para Lula e o PT fazerem uma autocrítica, reconhecerem os graves erros que cometeram. Que nada.
Desde então, acusam as apurações sobre a roubalheira na Petrobrás e em outras empresas estatais como perseguição política. Apostaram na chamada narrativa do golpe, na expectativa de dela beneficiarem pela impopular gestão de Michel Temer, que ali chegou por eles o terem escolhido por duas vezes como candidato a vice-presidente.
Em todo esse período, o PT usou e abusou da narrativa do golpe. Nas eleições municipais, até fez algum sucesso nos mundinhos acadêmicos e artísticos. Nas urnas, tomou uma grande surra. Aprendeu a lição? Nadica de nada. Continuaram com o mesmo discurso.
Como Lula, apesar da alta rejeição, mantinha sua popularidade em mais ou menos um terço da população, sobretudo no Nordeste, insistiram com sua candidatura. Mesmo depois de ele ter sido condenado, por corrupção e lavagem de dinheiro, em duas instâncias judiciais. O que, pela Lei da Ficha Limpa, o tornava inelegível.
Militantes e devotos de Lula olhavam apenas para suas intenções de voto, pouco enxergavam a rejeição dele e do partido. Criaram, então, uma narrativa provisória de que sem Lula a eleição seria fraude. Posto que cascata, durou pouco.
O PT apostou em uma mágica de trocar Lula por Fernando Haddad mas sem de fato passar o bastão. Seu sucesso efêmero foi barrar, com rasteiras, os concorrentes como Ciro Gomes. O plano genial, bolado por Lula em sua cela em Curitiba, era conseguir ir ao segundo turno contra Jair Bolsonaro e ali vencê-lo com ampla vantagem no jogo das rejeições. Deu ruim.
Pouparam Bolsonaro — alguns me dizem que o partido tem farta munição, especialmente contra as barbaridades ditas por seus filhos. Teriam guardado para essa reta final. Parece ser tarde. Os eleitores de Bolsonaro, principalmente depois do primeiro turno, avaliam que qualquer denúncia agora é armação.
Com todas essas ilusões de ótica, o PT finalmente percebeu que vai perder as eleições. E que pode perder por uma margem ainda não mensurável, talvez bem maior que seus piores pesadelos. Como é sabido desde as disputas sindicais, é um partido que não sabe e não aceita perder.
Diante dessa provável derrota, o PT resolveu pegar carona no jogo mais manjado dessas eleições, a troca de chumbos com fake news, e tentar fazer disso um escândalo. Até aqui faltam provas e sobram suspeitas pra todos os lados. Enfim, é mais uma narrativa. Dessa vez, menos que ganhar a eleição, o propósito é conseguir um discurso que o ajude a manter sua hegemonia nas esquerdas. E Lula, líder único e incontestável, na cadeia ou em prisão domiciliar.
A conferir.