Em política, muitas vezes o que parece não é. Por mais que o estrago seja grande, certas derrotas podem pavimentar futuras vitórias. Desde as eleições para as mesas diretoras da Câmara e do Senado, em um efeito dominó, os partidos supostamente de oposição entraram em parafuso. Havia dissonância entre as direções e deputados e senadores. Os interesses de uns não batiam com os anseios imediatos de outros.
A primeira e apressada leitura é de que o governo Bolsonaro abriu os cofres e, usando verbas e cargos, fez uma ampla compra na feira parlamentar. De alguma maneira isso realmente aconteceu. Quem se vendeu nas eleições para o comando do Congresso avalia que já quitou a dívida. Outros votaram por ene razões e interesses no mundinho em que convivem em Brasília deputados e senadores.
Rodrigo Maia conhece esse jogo, João Doria, não. Rodrigo perdeu uma partida em seu próprio campo. Doria levou um tombo ao se meter em um terreno que mal conhece. O que resultou desses erros foi a implosão em sequência do DEM e do PSDB. O jogo que vinha sendo jogado entre Doria e Maia entrou na berlinda.
Um olhar pelo retrovisor revela que, em 2018, a importância de Rodrigo Maia na costura de um amplo apoio partidário a Geraldo Alckmin. Isso só assegurou um gigantesco tempo de propaganda no rádio e na TV, que evidenciou ainda mais o fiasco do tucano. Cada eleição tem sua própria história. Quem as avalia depois é historiador ou engenheiro de obra pronta.
O rebu não foi só no centro e na centro-direita. Lula aproveitou toda essa confusão para atropelar as esquerdas e de novo lançar a candidatura de Fernando Haddad ao Palácio do Planalto. Uma jogada esperta. Sentiu que os ventos do STF lhe são favoráveis, jogou a isca para facilitar que o voto do ministro Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, anule a sua condenação pelo caso do tríplex, confirmado em segunda instância pelo TRF-4 e em terceira instância pelo Superior Tribunal de Justiça.
Mesmo que pareça uma corrida de malucos, os advogados de Lula estão animados com a perspectiva de o STF zerar o jogo. Têm inclusive de irem além da própria tamanca. Lula está condenado em segunda instância — em nenhuma delas por Sérgio Moro — no caso do sítio de Atibaia. O que por si só, em tese, mantém a sua inelegibilidade.
Todo esse imbróglio leva a reta final das eleições em 2018. Ali o desentendimento geral das oposições foi até o segundo turno. Deu no que deu. Se há um consolo para as oposições de todos os naipes, é o fato do desacerto entre elas ocorrer agora, há um ano e meio das eleições presidenciais. A única coisa que não podem reclamar é falta de tempo para acertar um jogo para derrotar Jair Bolsonaro.
A conferir.