Gilmar Mendes age no Supremo como Renan Calheiros no Senado. Ambos se sentem à vontade para censurar colegas quando contrariados em suas posições.
Renan foi enquadrado pelos líderes partidários que não concordaram com sua aberta pressão para aprovar represálias contra investigadores da Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção.
Gilmar se escalou como bedel do Supremo. Até com certa razão, partiu para cima de Ricardo Lewandowski pelo papelão no julgamento pelo Senado da cassação de Dilma Rousseff. Ainda que correto, o tom foi acima do esperado no tratamento entre ministros de um mesmo tribunal.
Ao chamar Marco Aurélio Mello de doido varrido e sugerir seu impeachment, por ter afastado Renan da presidência do Senado, Gilmar extrapolou de vez. A decisão solitária de Marco Aurélio foi no mínimo inusitada, mas a reação de Gilmar exagerada.
Ele até pensou em retornar ao Brasil para votar a favor do Renan, foi aconselhado a ficar no exterior, e virou alvo de críticas generalizadas dos colegas.
Parecia ter entendido o recado. Baixou a bola, disse que fez apenas uma blague, não quis ofender Marco Aurélio. Essa postura durou pouco.
Ao saber da controvertida decisão de Luiz Fux de anular a tramitação na Câmara do pacote de medidas contra a corrupção, apresentadas pelo Ministério Público, com o apoio de mais de dois milhões de assinaturas, Gilmar voltou à carga. Disse que Fux deveria fechar o Congresso e entregar as chaves à Lava Jato. “É um AI-5 do Judiciário. O Supremo caminha para o mundo da calhofa”.
Por esse critério de julgar decisões de colegas, Gilmar Mendes também deveria puxar a orelha de seu parceiro Dias Toffolli. Em entrevista a Roberto Dávila, Tofolli deu uma inacreditável desculpa por ter pedido vista na votação de que réu não poderia ocupar cargo na linha sucessória da Presidência da República.
O placar estava 6 a 0. Portanto, maioria absoluta em uma decisão com alvo definido: Renan Calheiros. A explicação de Tofolli: “Cheguei depois de tomar remédios para uma dor insuportável. Não tinha condições mentais. Fui no sacrifício. Tive que pedir vista para ir ao médico”.
É simplesmente inacreditável. Raras vezes na vida pública alguém produziu uma desculpa tão esfarrapada.
Pelo andar da carruagem, os ministros do STF vão ter que fazer a famosa DR, discussão de relacionamento, antes que a instituição caia na vala geral do descrédito popular.
Já está a caminho.