Nas investigações judiciais, há denúncias em que os acusadores têm dificuldade de comprovar e outras que fluem até com certa naturalidade. Quando os acusados se entregam em gravações, confessam crimes com a própria voz, são filmados com malas de dinheiro, tudo fica mais fácil.
Quando os corruptores contracenam com os alvos, sob a direção dos investigadores, é o chamado mamão com açúcar.
No caso que agora abala a República, a denúncia de corrupção contra Michel Temer, dois poréns poderiam embaraça-la: a gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista ter sido editada ou ter sido fruto de uma armação do Ministério Público, como insiste Gilmar Mendes, sem apresentar sequer um indício.
O laudo conclusivo do Instituto de Criminalística da Polícia Federal descarta a edição, em que se apegava a defesa jurídica de Temer, e o passo a passo na narrativa na denúncia de Rodrigo Janot desmonta a teoria da conspiração em que Gilmar Mendes embarcou.
Sem esses entraves, e com todos os ingredientes que mostrou, com novos trechos de diálogos antes considerados inaudíveis e o que a apuração comprovou, a denúncia de Janot contra Michel Temer e Rodrigo Loures é simplesmente devastadora.
Mesmo assim, tem gente que diz que tudo isso não passa de uma ilusão. Seria uma conspiração da Globo com o Ministério Público, com a complacência do Judiciário, para uma mudança sem causa específica. Como Temer, Aécio Neves também seria vítima dessa armação.
É o mesmo lero-lero de quando a Operação Lava Jato deixou o PT nu. E Dilma Rousseff caiu. Ali, pelo menos, havia a narrativa de que a Globo, as elites e a Justiça queriam acabar com os avanços sociais. Por essa ótica, o complô de agora seria contra as reformas da Previdência, trabalhista… Seriam os liberais detonando os liberais.
No afã de se livrarem do carimbo de corruptos, e escaparem da cadeia, políticos de todos os quadrantes, e os que os seguem cegamente, aderem a uma versão piorada do Samba do Crioulo Doido, do magistral Stanislaw Ponte Preta.
Acordem! Não é o Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa que querem criminalizar a política. O exercício da política no Brasil é que, sempre com exceções, virou uma atividade em que a grana virou cada vez mais referência e a turma de todos os naipes perdeu o pudor em buscá-la. A que preço fosse.
Triste assim.