Por que, em vez de murchar, nessa segunda-feira a greve dos caminhoneiros manteve-se igual apesar do acordo em que o governo cedeu tudo o que podia e até o que não devia?
Diante da frustração de suas expectativas, os ministros palacianos atribuíram à influência de “infiltrados” políticos a resistência à desmobilização dos caminhoneiros.
No final da tarde, José Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros, denunciou que “grupos intervencionistas” estavam impedindo o fim da greve, como na Vila Carioca (onde há bases da Petrobras, Shell e Ipiranga), em São Paulo. Poderia ser apenas uma desculpa de quem não conseguiu cumprir sua parte no acordo com o governo. Horas depois, autoridades federais envolvidas com a crise dos caminhoneiros afirmaram que agentes de inteligência conseguiram comprovar a tal “infiltração” no movimento grevista. E mais: fontes do governo disseram que, nessa terça-feira, começa uma forte reação das forças de segurança. Se não for outro tiro n`água, pode haver revelações graves e relevantes.
Por exemplo, se confirmar uma acusação compartilhada em troca de mensagens entre gestores da crise. Trata-se do relato de um executivo de uma grande empresa de commodities, divulgado pelo jornalista Marcos Augusto Gonçalves, em seu blog na Folha de S. Paulo. Segundo o executivo, milícias armadas que nada têm a ver com caminhoneiros ou transportadoras estão atuando pelo menos em Minas Gerais, Goiás e Paraná. Elas estariam intimidando caminhoneiros a manterem a greve em nome da tal intervenção militar.
Afinal, grupos de extrema direita estão tentando derrubar o frágil governo Michel Temer?
Isso, se comprovado, é muito grave.
O que se sabia até aqui era bem menos que isso.
Com faixas, pichações, adesivos e participação ostensiva em atos públicos, os defensores de uma intervenção militar – bandeira dos saudosistas da ditadura – faziam questão de se identificar com o movimento dos caminhoneiros. Jair Bolsonaro, um dos mitos dessa turma, foi na mesma onda na perspectiva de ampliar suas intenções de voto.
Até aí parecia ser oportunismo político e demagogia eleitoral. Se de fato há grupos articulados para tentar pôr em prática a maluquice golpista que vêm pregando país afora, alimentada pelo discurso de Bolsonaro, eles têm de ser identificados e punidos.
Não há saída fora da democracia.
Depois das gestões desastrosas de Dilma Rousseff e de Michel Temer, como estabelece a Constituição, em outubro os brasileiros vão eleger presidente da República, governadores, deputados e senadores.
O resultado das eleições pode definir os rumos para o país sair de seus vários atoleiros.
A conferir.