De um jeito ou de outro, o país inteiro assistiu à votação preliminar na Câmara sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao vivo e a cores, todos viram como se comportam quem elegeram. O espelho de um país surpreendente agradou e desagradou a partidários e contra a queda de Dilma. Em seu momento de glória, o baixo clero de ambos os lados se exibiu. As elites políticas, sustentadas por todas essas turmas, dizem ser diferentes.
O jogo agora é no Senado, o chamado alto clero. Mesmo quem se tornou conhecido por gambiarras, ali ganha um novo status. Se a arena popular da Câmara chocou a um público mais exigente, o Senado quer dar uma nova roupagem à mesma peça. O script não surpreenderá. No primeiro ato, Dilma é afastada do governo; no último, é cassada. 81 dos 81 senadores sabem que o enredo é esse. Mas ninguém, de acordo com seus interesses, vai deixar de ser protagonista de algum papel no desenrolar dessa novela em que tire algum proveito.
Nessa crônica de queda anunciada, há quem queira mudar o roteiro. Entre desesperançados e esperançosos, rola um jogo para profissionais. Dilma não quer cair, óbvio. De acordo com alguns dos poucos amigos dela, dói mais do que a queda a ascensão de Michel Temer. Daí, surgem alternativas surpreendentes, só criveis por esse momento singular.
A velocidade dos fatos atropela táticas e estratégias planejadas para um tempo que já não existe. Há vinte dias, Gleisi Hoffmann, a senadora mais identificada com Dilma, propôs a Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, conversa sobre uma parceria para a convocação de eleições antecipadas.
Alinhado ao presidenciável Aécio Neves, era tudo o que Cássio gostaria de ter ouvido meses atrás. Agora, já era. Ontem, parlamentares contra o impeachement e outros só querendo marcar posição nessa geleia geral, apresentaram uma proposta convocando eleições presidenciais. Puro jogo de cena.
O que pode acontecer é um cavalo de pau que gente muita próxima a Dilma diz que, para evitar a entrega do poder a Temer, ela já estaria pensando em fazer. Difícil de acreditar. Ontem, alguns dos gabinetes mais bem informados da República receberam a informação de que Dilma pode fazer uma confissão no processo no Tribunal Superior Eleitoral de que sua campanha à reeleição, em 2014, teria recebido, a sua revelia, dinheiro de Caixa 2. Ver para crer.