Os principais motes ideológicos da campanha de Bolsonaro foram na Educação — kit gay, escola sem partido, mudança radical na gestão das universidades públicas, adoção do modelo de ensino das escolas militares… Muitos grupos se mobilizaram em torno dessas bandeiras, cada um se achando detentor de formulas mágicas para revolucionar a Educação. Nenhum deles estava preparado para a gestão do colosso que é o Ministério da Educação, um órgão estratégico para o desenvolvimento do país, com o Orçamento anual de R$ 122 bilhões e o poder de gerar fortunas com uma canetada certeira.
Durante a transição, militares, evangélicos, ideólogos, empresários de ensino e até educadores entraram na parada para a escolha do ministro da Educação. Foi um fuzuê. Ao final, surpreendeu a todos, inclusive aos coordenadores da transição, a indicação do professor colombiano Ricardo Vélez Rodriguez — sua principal credencial foi o apoio do ideólogo Olavo de Carvalho, guru dos Bolsonaros.
Uma parceria de Olavo de Carvalho com a deputada Bia Kicis (PSL-DF) montou a equipe de Vélez, deixando de fora a turma que, sob o comando dos generais, elaborou um conjunto de propostas para a Educação no novo governo. Essa aliança não durou dois meses. O racha, que começou sendo apresentado como simples divergências ideológicas, descambou para acusações de envolvimento com interesses privados bilionários.
A turma da deputada Bia Kicis — comandada pelo coronel Ricardo Roquetti e Luiz Antonio Tosi, secretário-executivo do MEC — convenceu o ministro Vélez Rodrigues a se livrar do cangote dos chamados Olavetes. O guru Olavo de Carvalho não gostou e chutou o pau da barraca. Acusou os adversários de corrupção.
O presidente Jair Bolsonaro entrou no circuito. Influenciado pelos filhos, bancou a demissão de Roquetti. Foi o suficiente para Olavo de Carvalho iniciar seus posts no Twitter na segunda-feira cantando vitória, aplaudindo Vélez e pedindo a cabeça de todos os indicados pelo coronel Roquetti. “O ministro Veléz deu um sinal de compromisso com o projeto que o colocou lá e com a vontade popular ao demitir o coronel Roquetti. Diante de uma operação de infiltração como essa, ninguém pode ser poupado. É preciso mandar todos para a rua, a começar pelo tal Tosi”.
No começo da noite, o Palácio do Planalto anunciou seis demissões — Roquetti, Tosi e os olavistas Tiago Tondinelli, chefe de gabinete do ministro, e Silvio Grimaldo, entre eles –e a nomeação de nomes identificados com Roquetti para algumas das vagas. Foi o bastante para uma radical mudança no humor de Olavo de Carvalho. “O Vélez se vendeu ou se deu?”, disparou. Já na madrugada dessa terça-feira, atacou de novo: “Não vou perguntar ao Vélez os motivos do seu comportamento. Não sou psiquiatra dele”.
A solução salomônica de Bolsonaro nas demissões do MEC, em vez de pacificar seus aliados, gerou mais confusão. É difícil acomodar no comando do mesmo orçamento bilionário quem troca acusação de que o rival está de olho no cofre. Os generais que já controlam a maioria dos cofres na Esplanada dos Ministérios, e foram escanteados da Educação, assistem o embate de camarote.
A conferir.