Como a Rede pode virar um estorvo para Marina

Ex-senadora Marina Silva

A Rede é um partido curioso. Com a aura de ser boa aposta para o futuro, foi montado na perspectiva de que o avanço político vale mais que o eleitoral. Parecia ter caminho aberto para se projetar no vácuo da queda do PT e de seus partidos satélites. Conseguiu a proeza de  perder em todas as frentes. Obteve um pífio desempenho nas urnas e não se expôs com clareza diante de nenhuma questão política relevante, exceto a boa e velha defesa do meio ambiente.

Seu principal destaque eleitoral foi ter chegado ao segundo turno em Macapá. Seu candidato, o prefeito Clécio Luis, egresso do PSOL, tem como vice uma vereadora do DEM, e o apoio de uma salada de partidos. Nada mais distante do que se propunha Marina Silva e sua Rede em sua pureza original.

Fora os minguados segundos da propaganda eleitoral e as raras aparições de Marina Silva, os holofotes sobre a Rede iluminaram seu desempenho em Brasília, onde foram travadas batalhas como a do Impeachment de Dilma Rousseff. Foi aí que ficou mais evidente o desencontro.

Enquanto Marina, com a ressalva de que preferia novas eleições, apoiou o impeachment, na Câmara e no Senado seus líderes, deputado Alessandro Molon e senador Randolfe Rodrigues, se destacaram na tropa de choque em defesa de Dilma.

Parece algo surreal para quem pregava só assumir uma posição após ela ser decidida em “processo de construção de consensos progressivos”.  Quem começou a fugir de reuniões avalia que elas eram cansativas. Dizem eles que, em excesso, intermináveis e inconclusivas discussões, por mais democráticas que sejam, tornam-se chatas.

Pois bem. Até esse método cultuado como marca democrática da Rede está na berlinda. Logo depois da eleição, alguns de seus notórios militantes, como Liszt Vieira e Luiz Eduardo Soares, saíram do partido alegando justamente a falta de espírito democrático. Dizem que  não valia exatamente para Marina.

Ao explicar ao senador petista Lindbergh Farias porque deixou a Rede, o sociólogo Luiz Eduardo foi preciso: “A Marina é igualzinha ao Lula. No final, o que vale é a vontade dela”.

A diferença é que até o seu recente declínio, Lula mandava e era obedecido.

Sempre com bom desempenho nas pesquisas eleitorais, Marina criou um partido para chamar de seu e se tornar um trunfo em sua pregação de que é diferente dos políticos em geral. Pelo que se viu até agora, em vez de ser uma vitrine, a Rede pode se tornar um estorvo em sua caminhada para o Palácio do Planalto.

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