Os políticos agem como se não houvesse limite para o desgaste deles. Quando se sentem ameaçados, exibem uma incontrolável tendência de aproveitar de toda e qualquer brecha para aprovarem medidas que resultem em vantagens pessoais.
Fazem isso como se não existisse a regra de que nenhum deles deve legislar em causa própria. Vivem tentando driblá-la, nem sempre conseguem.
O que mais impressiona é a cara de pau. No Rio de Janeiro, por exemplo, as urnas gritaram insatisfação contra as opções que a política ofereceu. Por qualquer ângulo, era um momento de inflexão. Os números no segundo turno não deixaram nenhuma dúvida.
Mas seus vereadores acharam que viviam em outro mundo. Talvez por exercerem o mandato no impressionante Palácio Pedro Ernesto, quiseram criar para si próprios uma aposentadoria estapafúrdia. Só recuaram quando sentiram a indignação de quem iria pagar a conta.
Eles podem ser mais escancarados, mas não menos espertos que seus colegas Brasil afora. Aqui em Brasília o que lideranças de quase todos os quadrantes buscam é a fórmula menos desgastante de anistiar quem se lambuzou no caixa 2.
A primeira alternativa posta em pauta é criminalizar só quem receber caixa 2 daqui para a frente. Com isso, o lotado bonde da delação da Odebrecht poderia escapar dos rigores da lei. Quer dizer, os parlamentares pretendem votar em uma medida que os beneficiará.
Essa anistia indireta, defendida pelo relator Onyx Lorenzoni, enfrenta dois problemas. O primeiro é que pega carona em propostas do Ministério Público que visam exatamente o contrário. A chance de isso colar como avanço no combate à corrupção é nula. O outro é que não segurança para a turma mais aflita.
Muitos parlamentares não se satisfazem apenas com brechas que possam livrá-los de punição judicial. Querem ter certeza disso. Defendem uma anistia explícita. Para eles, a justiça nunca foi um grande problema. Agora, é o maior deles. Temem que, se dependerem de interpretações de juízes, correm risco. Eles estão apavorados com o caminho aberto pelo juiz Sérgio Moro.