Como Lula e Cunha, Renan aposta em ataques para escapar da Justiça

Delcídio do Amaral cansou de dizer a Lula e a Dilma Rousseff que aprendeu no Pantanal que, acuada, uma fera ataca. Falava isso como intermediário de ambos em tentativas de acordo com Eduardo Cunha, com o propósito de todos se salvarem no escândalo da Petrobras.

Delcídio acha que demorou a ser ouvido e entendido. Deixaram a casa cair, deu no que deu. Lula, Delcídio, Dilma e Cunha dançaram. Delcídio e uma penca de delatores afirmam que o próximo na fila é Renan Calheiros.

Renan sabe disso. Por todo e qualquer critério, ele sente o cerco apertar. Como todos os que caíram antes, mudou de tática. Deixou de se apresentar como alguém que, por alegada inocência, reagia com frieza, não estava nem aí. Passou a chutar a canela de quem poderia incomodá-lo. Virou o disco.

A exemplo de Eduardo Cunha e Lula, optou pelo ataque como defesa. Escolheu como principal alvo o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Usa seu cargo, e o controle da pauta do Senado, para cobrar a demissão do ministro.

No Palácio do Planalto, a avaliação é de que Renan adotou os mesmos métodos de Eduardo Cunha quando se viu de frente para o abismo. Cobra uma proteção de quem não tem a menor condição de dá-la. Como o mundo político em geral, tudo o que cada um de seus atores almeja é sobreviver ao que vem por aí.

Em seu esperneio, Renan atirou para vários lados. Quer se credenciar como porta-voz de parlamentares de todos os naipes, assustados com as megas delações das empreiteiras. No alto da cadeira da Presidência do Senado, ele afirmou que as operações de combate à corrupção acabaram com a legítima defesa, verdadeiro atentado contra a Constituição.

Atacou também a decisão do STF de que sentenças em segunda instância, como a prisão do ex-senador Luiz Estevão em Brasília, sejam cumpridas. Disse que isso também atenta contra o direito de defesa. Até aí, em causa própria ou não, Renan exerceu o direito de pensar o que quiser.

Ele pisou na bola ao ameaçar retaliações. Uma delas, muito justa por sinal, a gente registrou aqui em Os Divergentes sobre os privilégios de juízes e procuradores corruptos. Uma outra foi mais grave. Na segunda-feira (24), em uma palestra em Curitiba, o juiz Sérgio Moro disse, com todas as letras, que as dez propostas contra a corrupção enviadas pelo Ministério Público ao Congresso Nacional não eram os Dez Mandamentos. Na avaliação dele, elas poderiam ser modificadas.

Citou uma, a que abre possibilidade de aceitação em inquéritos de provas ilícitas, como descartável. Disse que ela não faz a menor falta no combate à corrupção pela Justiça. Citou até um argumento dos que corretamente a combatem, no limite ser possível a obtenção de provas com tortura. Considerou um absurdo.

Tudo isso ficou claro para quem ouviu a palestra. No alto da cadeira da Presidência do Senado, sem citar o nome de Sérgio Moro, Renan distorceu o que o juiz falou. Disse até que “um juiz”defendeu a tortura como instrumento para obter prova ilícita.

Com esses chiliques, Renan se parece cada vez mais com Eduardo Cunha. Cunha já está em Curitiba. Tudo indica que, em breve, o Supremo decide se Renan terá o mesmo destino. A conferir.

 

 

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