Como a derrocada do PT gera um acerto de contas entre as esquerdas

Márcio França

Bordão atribuído ao genial Mário Lago — “a esquerda só se une na cadeia”—  parece defasado.  A banda da esquerda que, na última década, deu as cartas no Brasil, tem seus principais líderes presos em Curitiba ou ameaçados de passar uma temporada por lá. Quem está fora não se entende.

Força hegemônica, o PT parece caminhar para uma desintegração. Quem sempre mandou ali dá sinais de que não pretende abrir mão do poder no partido para os que não se envolveram diretamente no Mensalão e no escândalo da Petrobras.

Se não conseguir superar seus conflitos internos, o PT corre sério risco de perder, também, a influência no bloco que se auto-intitula como “a esquerda” no Brasil. A exemplo de seus grupos minoritários, os aliados tradicionais ciscam em busca de alternativas.

O enfraquecimento do PT também estimula adversários concorrentes no campo da esquerda. Políticos do PSB, do PPS, da Rede e de outros partidos começam a avaliar a possibilidade de se construir um novo polo de poder. A ideia é se apresentar como esquerda democrática e sem envolvimento com corrupção.

Aí também não há unidade. Quem tem cacife para bancar um projeto para tirar a hegemonia do PT entre as esquerdas parece ser  Márcio França, cacique do PSB e vice-governador de São Paulo. Seu projeto tem como meta eleger Geraldo Alckmin presidente do Brasil.

Há divergências sobre esse caminho. Tem gente que entende que  essa nova articulação não pode ser atrelada ao projeto Alckmin de poder. “ Não é por aí, nada a ver. O que a gente tem conversado é sobre a alternativa de apresentar ao país uma proposta de esquerda democrática”, diz o deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

Vai ter muito bumbo antes de serem definidos os caminhos a serem seguidos pelas diversas esquerdas. Pelo tom adotado nas eleições municipais, símbolos tradicionais como a cor vermelha e até a velha e surrada foice com martelo perderam visibilidade. Na verdade, eles não eram o problema. O que as urnas confirmaram foi a rejeição pelos brasileiros das fraudes na condução da economia e da corrupção generalizada como método para se manter no poder.

Nenhuma nova maquiagem será uma saída para valer. As esquerdas, mesmo as que não embarcaram na nau petista, sabem que tem um preço a pagar. A utopia comum foi para o sal. O desastre foi tão grande que ressuscitaram a direita no país. Difícil fingir falsas unidades.

Por mais que se tente alternativas menos indolores, as esquerdas vão ter que enfrentar uma catarse. Evidente que quem não embarcou na corrupção generalizada, sai em vantagem. A conferir.

 

 

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