Em política, até o acaso costuma ser planejado. Dilma cavou o próprio fosso, mas só caiu porque Temer costurou alianças para assumir seu lugar. Dilma apressou esse processo ao entregar a Temer a gerência do mapa de distribuição de cargos e de verbas aos aliados, batizada pelos políticos de Posto Ipiranga.
Por indicação de Temer, Eliseu Padilha virou o gerente dessa máquina de agrados a políticos. Assim, ele montou um mapa do fisiologismo parlamentar que foi decisivo na batalha final do impeachment na Câmara dos Deputados.
Essa gerência era abastecida por alguns craques no mergulho ao lamaçal onde os políticos fazem todos os tipos de negócio em busca de riqueza e de poder. Uns ficaram pelo caminho, como Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima.
Outros continuam a operar. Inclusive no Palácio do Planalto. Ali, Temer, Padilha e Moreira Franco bancam o jogo. São várias as apostas. Todas tendo como prêmio principal que todos se mantenham no jogo, sobrevivam à Lava Jato e a outras investigações.
Mesmo propósito das elites políticas de todos os grandes partidos. Por mais que se apresentem como adversários, Lula, Temer e Aécio estão unidos no propósito de barrar as investigações contra a corrupção na política.
Essa frente ampla foi uma reação ao avanço das apurações da força tarefa comandada pelo juiz Sérgio Moro. Começou tímida pelo receio de que, se aprovassem no Congresso um basta nas investigações, o STF poderia vetá-la.
Na conta deles, Carmén Lúcia era um voto decisivo. Contra eles.
Tudo mudou quando, gaguejante, Cármen Lúcia atropelou decisões do próprio tribunal e deu o voto decisivo para o salvo conduto a Aécio Neves. Essa transferência do STF para a Câmara e o Senado da prerrogativa da palavra final sobre qualquer medida cautelar contra parlamentares simplesmente abriu a porta do inferno.
Foi a senha para Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais se sentirem à vontade para tirar os colegas da cadeia, inclusive os que foram colocados lá pelo próprio STF.
Aqui em Brasília a turma perdeu o medo. Considerou liberada, sem qualquer risco, a feira livre na Câmara e no Senado em que se troca votos por cargos e grana.
Desde os escambos para salvar Temer de um processo criminal, os preços dispararam. Para quem tenta fazer caixa para se reeleger ano que vem o céu é o limite para as possibilidades de lucrar desde já.
A pressa é tão grande que, a cada dia, Temer é forçado a antecipar o cronograma de pagamento.
A reforma ministerial, por exemplo, estava prevista para o final de março, com a justificativa de que em abril quem pretende disputar as eleições tem mesmo de sair do governo.
Desde a semana passada, pressionado pelo Centrão, Temer começou a sondar alguns ministros sobre a possibilidade de deixarem os cargos em janeiro. Nem todos gostaram. Avaliam que quanto mais ficarem com a caneta ministerial mais cacife conseguem para a disputa eleitoral.
Para surpresa desses ministros que esperavam temporada maior nos cargos, a turma que almeja o butim dos tucanos no governo não gostou desse calendário. Quer se apossar logo. Até o final do mês. Antes mesmo da Convenção do PSDB em dezembro quando os tucanos resolveriam seguir o próprio rumo.
Temer até gostaria de esticar essa corda, dando gás na disputa interna a seus aliados tucanos liderados por Aécio Neves e José Serra. A questão é o custo/benefício dessa aposta.
O Centrão e o próprio PMDB não querem esperar o desembarque dos tucanos. Pressionam para que eles sejam desalojados já.
Temer finge resistir. Já avalia a melhor maneira de atendê-los sem parecer que está atropelando seus parceiros tucanos.
Para ele, dezembro talvez seja a melhor data para uma reforma ministerial com menos desgaste. Vai precisar de fôlego para chegar até lá.
A conferir.