Por seu histórico nas redes sociais, o clã Bolsonaro sempre foi adepto de teorias da conspiração. A tentativa em setembro de assassinar Jair Bolsonaro no atentado em Juiz de Fora multiplicou por ene vezes a desconfiança de sua família em relação a adversários e até a aliados. “A morte de meu pai não interessa somente aos inimigos declarados, mas principalmente aos que estão muito perto, principalmente após sua posse”, postou Carlos Bolsonaro no Twitter no começo de dezembro.
A leitura na própria equipe de transição de que o alvo desse tuíte seria o vice-presidente Hamilton Mourão só não virou crise porque prevaleceu a avaliação de que Carlos Bolsonaro, o 002, era apenas um filho mais complicado, ainda deslumbrado pelo sucesso de sua atuação nas redes sociais durante a campanha eleitoral.
Com seu dedo digital nervoso, Carlos continuou atirando em aliados, e virou um incômodo fora do mundinho familiar – um filho ciumento capaz de reações intempestivas a qualquer suposta ameaça ao pai. Assim, seguiu armado na traseira do Rolls Royce presidencial no desfile pela Esplanada dos Ministérios em Brasília, e permaneceu em vigília durante a internação de Jair Bolsonaro no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Parecia uma paranoia pessoal.
A longa agonia no entorno de Jair Bolsonaro no processo de demissão do ministro Gustavo Bebianno mostrou que Carlos não é o fio desencapado. Pelo menos não é o único. Todo o clã Bolsonaro, inclusive o presidente, participou de um disse me disse que expôs fraquezas e paranoias inacreditáveis.
Pelas versões atribuídas ou compartilhadas pela família, mesmo tendo apostado em Jair Bolsonaro quando sua candidatura era considerada uma zebra monumental, Gustavo Bebianno há tempos conspira contra seu sucesso. No sábado, o deputado Eduardo Bolsonaro entrou na briga e compartilhou em suas redes sociais um post de Allan dos Santos que atribui a Bebianno sabotagem à candidatura do príncipe Luiz Philippe de Orleáns e Bragança a vice-presidente de Bolsonaro.
Nessa mesma toada, os Bolsonaro estariam incomodados com supostos movimentos de Gustavo Bebianno para fortalecer o vice Hamilton Mourão em uma eventualidade que tenha de suceder Jair Bolsonaro. Nesse sentido, pipocam versões como supostas conversas sigilosas com o Grupo Globo. Verdade ou não, parece o suficiente para detonar as ações de bombeiros empenhados em baixar o fogo da crise política.
Nesse estranho processo de demissão a prazo de um ministro instalado no Palácio do Planalto, Bebianno deitou e rolou nesse vácuo político. Deu algumas respostas, quase todas monossilábicas, mas “a interlocutores” manteve-se nas manchetes dos sites com fortes mordidas e leves assopradas. Só desmentiu as que algum de seus interlocutores teria dado ao colunista Lauro Jardim: “O problema não é o pimpolho. O problema é o Jair. Ele usa o Carlos como instrumento, é assustador”; “Perdi a confiança no Jair. Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o país”.
Nesse domingo, cada site publicou relato de algum “interlocutor” de Gustavo Bebianno. O único a se identificar foi o empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio Bolsonaro no Senado. Ele negou qualquer espírito de vingança do amigo Bebianno com sua demissão prevista para esta segunda-feira. “Do lado de cá, a gente não tem esse sentimento. Estamos tranquilos e serenos”.
Nessa troca de farpas, todos os envolvidos foram atingidos. O tiroteio previsto para as próximas horas pode agravar as feridas. Jair Bosolnaro, que tenta se esquivar das balas, pode ser o mais alvejado.
A conferir.