Cai o escudo de Bolsonaro

O presidente Bolsonaro

Um dos exercícios dos analistas na reta final da campanha eleitoral era separar, nos posts nas redes sociais, o que era pensamento de Jair Bolsonaro dos comentários e críticas exclusivos do filho Carlos Bolsonaro. Avaliava-se que, detentor único da chave para postagens, Carlos às vezes forçava a barra e criava embaraços políticos para o próprio pai.

Gustavo Bebianno . Foto Orlando Brito

Os áudios e mensagens trocadas entre Jair Bolsonaro e o então ministro Gustavo Bebianno, divulgados hoje por Veja, mostram que essa suposta diferença é bem menor do que supunham (ou torciam) inclusive aliados civis e militares. Se em vez da voz, fosse por escrito o que falou Bolsonaro – ao proibir a audiência no Planalto com o vice-presidente institucional do grupo Globo, cancelar uma viagem ministerial à Amazônia e fazer picuinhas com supostos vazamentos de notícias sem a menor relevância –, certamente a autoria seria atribuída ao filho Carlos.

Foi uma saia justa para muitos aliados de Bolsonaro, inclusive seus generais, todos parecem perplexos. O que se ouviu até agora foi a explicação mal ajambrada de que, isolado no hospital, o presidente ficou sob influência – e insistência – do filho Carlos que por lá acampou. O próprio Bebianno, na troca de mensagens, reclama do “envenenamento” por Carlos, seu notório desafeto. Se fosse verdade, um presidente que age cegamente pela orientação de um filho que ele mesmo chama de “pit bull”, seria ainda mais preocupante.

Políticos experientes, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fazem uma leitura inversa. Nas reações compulsivas, com agressões a adversários e aliados, Carlos Bolsonaro estaria sendo uma espécie de laranja do pai. Ao se expressar de viva voz, em seu inconfundível estilo, o capitão presidente reforçou a interpretação de que Carlos é mais do que apenas um fio desencapado, é seu escudo.

Essa evidência se torna pública com dois agravantes. Os áudios e a as mensagens desmentem o desmentido a Bebianno por Carlos no Twitter e endossado pelo pai em entrevista a TV Record. Parece inconcebível que o presidente da República dobre a aposta num blefe tão primário. Também é simplesmente inacreditável que os Bolsonaro, cujo sucesso se deve em grande parte ao competente uso das redes sociais, não tenham avaliado o risco de desmentir o que sabiam estar registrados em áudios e mensagens no WhatsApp.

Nessa toada, o que as redes ajudaram a fazer também podem desfazer.

A conferir.

Deixe seu comentário