Gilmar Mendes sempre foi um polemista de pavio curto. Nesta semana em que o STF, por conta dos ministros Dias Tofolli e Alexandre de Moraes — em uma atrapalhada batalha contra a Lava Jato –, entrou em uma das maiores berlindas de sua história, Gilmar ficou calado. Um surpreendente comportamento mesmo depois do freio de arrumação do decano Celso de Mello, que forçou a revogação da absurda censura à imprensa. Afinal, há tempos Gilmar é o mentor da guerra dos poderes em Brasília contra a Lava Jato.
Foi ele quem pôs pilha em Renan Calheiros, Aécio Neves e outros cardeais de todos os naipes políticos para cortar no Legislativo as asas de Sérgio Moro e de sua turma. Esteve à frente também das costuras na gestão Michel Temer para reações do governo federal aos avanços da Lava Jato. Desde a prisão de Lula — depois de ser amigo do peito do ex-presidente e se rivalizar com Moro no topo do ranking dos seus inimigos — virou a principal esperança petista de tirar Lula da cadeia. Nada disso deu certo.
O poder de uma suposta chave mágica de Gilmar Mendes, que livrou muita gente da cadeia, por mais que tenha batido na trave, não foi suficiente para abrir a cela de Lula.
Se já estava complicado, com a chegada triunfal de Sérgio Moro em Brasília, na esteira de um amplo recado eleitoral contra a corrupção e o establishment político, as cartas ficaram ainda mais embaralhadas. O jogo teria se invertido. Em vez de conseguirem no Congresso ou no STF um jeito de baixar a bola da Lava Jato e de outras investigações sobre corrupção, Gilmar Mendes e seus aliados no Supremo e no Parlamento passaram a se sentir em mutação de caçadores para caça.
Tudo, então, virou urgente. Ou se criava um dique eficiente, em parceria com Rodrigo Maia, ou seriam varridos por esse vendaval. Já escrevi aqui algumas vezes sobre esse temor de Tofolli e Maia de uma armação de Sérgio Moro e aliados. Os investigadores do Ministério Público e da Polícia Federal, por mais gana que tenham contra Gilmar, Ricardo Lewandowski e Dias Tofolli, dizem que essa sensação é até explicável em políticos envolvidos em escândalos, mas por parte de alguns ministros do Supremo é pura paranoia. Alegam que, por hierarquia judicial, continuam na defensiva. O propósito deles é evitar, venha de onde vier, um golpe mortal nas apurações sobre corrupção.
Nas hostes de Gilmar Mendes e Tofolli, essa postura dos investigadores é descrita como cínica. Dizem que as investigações conduzidas por Alexandre de Moraes, se não forem barradas pelo próprio Supremo, vão comprovar isso. “Estou me expondo do ponto de vista da minha imagem pessoal. As pessoas lá na frente, inclusive a imprensa, vão reconhecer que estamos certos”, disse Tofolli à colunista Mônica Bergamo. Desde segunda-feira, quando explodiu a notícia da censura, tenho ouvido essa mesma justificativa. Mas até agora não mostraram nenhum indício consistente disso.
Pelo contrário, ao revogar a censura à revista Cruzoé e ao site O Antagonista, Alexandre de Moraes acabou confessando que não sabia exatamente o que estava censurando. Diz que pensou ser uma coisa, depois viu que era a outra, sem nenhuma gravidade. Bastava um clique em uma das duas páginas na internet para evitar tamanha confusão. Mesmo assim, não quer dar o braço a torcer e cobra uma investigação de como o tal insípido documento chegou à redação da Cruzoé. Pura balela.
Por mais que se doure a pílula, Alexandre de Moraes e Tofolli chegaram a Semana Santa, tempo de penitência para os católicos, falando sozinhos. Sem sequer um consolo público de Gilmar. O que me dizem interlocutores deles é que o próprio Gilmar considerou a censura um erro crasso, atribuído à empolgação típica de Alexandre de Moraes desde que foi chefe da polícia em São Paulo. O papel de Gilmar, então, teria sido de ajudar, sem se expor, um recuo organizado na questão da censura à imprensa em uma expectativa estratégica de tentar salvar o tal inquérito sobre fake news, a aposta deles para virar o jogo contra a Lava Jato.
A conferir.