Nem é questão de coerência. Faz tempo que ela foi pro beleléu. Os discursos contra a corrupção, as práticas do Centrão e a suposta defesa da Lava Jato já haviam morrido pelo tortuoso caminho. Mas ainda se fingia sobre flagrantes de corrupção no governo, uma prática alimentada por robôs e militantes nas redes sociais. Por essa narrativa, o bandido, mesmo quando flagrado no próprio time, era o outro.
Tipo o clássico do Chico Buarque de chama o ladrão. São pelo menos dois problemas. O primeiro é que quando aos encantos do Centrão abre a porta da esperança da corrupção. O tal Orçamento secreto, tão ou mais grave do que as pedaladas de Dilma Rousseff, por si só é motivo de impeachment. Mas no jogo promíscuo que rola nas relações com parlamentares de vários naipes, é aceito como regra do jogo. É a velha máxima de sempre: aos amigos, tudo.
Mesmo com toda essa cobertura de proteção, o governo Bolsonaro pisa cada vez mais na bola e pode dançar por isso. Nem é bela sequência de bolas no enfrentamento da Covid-19. O que por si só já justifica cartão vermelho. Mas é no cerne do governo e de sua turma na sombra que rola o maior problema.
A contragosto Bolsonaro entregou os anéis do Ministério da Educação, com a demissão do incendiário Abraham Weinstraub, teve que entregar a cabeça do maluquete chanceler Ernesto Araújo e do pau mandado general Eduardo Pazuello. Todos eles comprados pelo valor de face vendido pelos filhos, amigos e ideológos da trupe.
Até aí, Bolsonaro navegou na própria ignorância. O problema agora é que está em xeque o que ele acha que entende. Faz tempo que ele contesta qualquer preocupação ambiental. Em algum momento no passado, foi garimpeiro e até hoje veste a camisa do time — não importa se legal ou não. Para ele, a Amazônia é fonte de renda, não importa se destruída. Índio tem de abrir mão de suas culturas e aderir à luta pela sobrevivência imposta pelos exploradores brancos ou não na região.
Por todo esse cenário, a aposta pessoal de Bolsonaro em seu governo, além da sobrevivência da família, é na Amazônia. Por mais que pareça folclórica sua obsessão pelo nióbio — um mineral que o Brasil tem as maiores reservas do planeta, mas sem demandas de tanto tamanho. Isso é apenas encenação. Desde sua campanha eleitoral, Bolsonaro sempre apostou em todos tipos de rolo na Amazônia.
Ricardo Salles foi escalado para executar o serviço. Agradou o chefe e cumpriu a missão até se descobrir que, à revelia ou não dos Bolsonaros, ultrapassou claros limites da lei. Ricardo Salles está sendo investigado aqui e nos Estados Unidos, além de crimes ambientais, por corrupção. Só no STF são dois inquéritos. Com acusações pesadas.
Na sua maluquice supostamente ideológica, Bolsonaro tenta defender esses gols contra na Amazônia. Uma tese muito difícil. O que complica ainda mais essa estratégia é a investigação aqui e nos Estados Unidos de que, além de crimes ambientais, tem corrupção grossa no pedaço.
A conferir.