Era intenção do presidente Jair Bolsonaro anunciar na quarta-feira (7) a escolha de Augusto Aras como o novo procurador-geral da República. A informação vazou e motivou uma ampla mobilização nos bastidores para tentar ao menos adiar o anúncio, com ativa participação do STF. A indicação de Augusto Aras atendia ao critério pleitado por ministros do Supremo que, por uma questão de hierarquia, o indicado fosse um subprocurador geral da República, topo na carreira no Ministério Público Federal. Mesmo assim, o tribunal preferia outro nome.
Dias Toffoli e Luiz Fux insistiam na recondução da atual procuradora-geral Raquel Dodge. Argumentam que ela é garantia de um relacionamento equilibrado, sem surpresas desagradáveis, com os outros poderes. Raquel também é a candidata de Rodrigo Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, com o apoio de boa parte dos caciques políticos. As razões aí são mais amplas.
Além da satisfação com o estilo mais sóbrio de atuação e ritmo mais lento nas acusações, se comparados com o antecessor Rodrigo Janot, os cardeais do Congresso receiam entregar”o canhão da PGR” nas mãos de quem possa usá-lo para atender a interesses políticos de Bolsonaro. Seria um risco em uma relação oscilante, tipo entre tapas e beijos, como a de Bolsonaro com Rodrigo Maia.
Pelo que se ouve nas hostes governistas, as ponderações dos chefes dos outros poderes não comovem Bolsonaro. Entram por um ouvido, sai pelo outro. Não passa recibo por que o nome do novo PGR terá ser aprovado pelo Senado Federal. Embora evite criticar Raquel Dodge em manifestações públicas, nas conversas reservadas Bolsonaro apresenta uma penca de restrições, como seu empenho em causas a favor da preservação do meio ambiente e contra o trabalho escravo. Quer emplacar no cargo alguém de outro time.
Alguns aliados de Bolsonaro, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), estão distribuindo um dossiê com trechos de vídeo em que identificam um jogo duplo de Aras com a turma de Rodrigo Janot, nome hoje maldito em toda a Praça dos Três Poderes. Dizem que ele é um infiltrado no time dos conservadores. Insinuam também que ele, mesmo no Ministério Público, teria relações próximas com alguns escritórios de advocacia. Seus aliados asseguram que é tudo mentira. O único grande escritório seria o dele próprio na Bahia — ele entrou no MPF no concurso de 1987, antes da promulgação da nova Constituição, e legalmente não está impedido de advogar.
Com o critério preliminar de que seja um subprocurador, o funil se estreita. A própria Raquel Dodge tem se mostrado meio cansada com esse jogo embolado, e só não jogou a toalha a pedido de seus apoiadores. Os dois escolhidos pelos colegas na tradicional lista tríplice – Mário Bonsaglia e Luiza Frischeisen — são vistos com ressalvas pelo entorno de Bolsonaro. Dizem lá que estão foram do páreo. Corre por fora Paulo Gonet, tido como um conservador de quatro costados, apontado como o melhor nome para a defesa das bandeiras sobre costumes da agenda bolsonarista. O problema é que ele foi sócio de Gilmar Mendes em um instituto privado e sua escolha bateria de frente com a turma da Lava Jato e seria um sinal sem precedentes de desprestígio do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Bolsonaro pode até gostar de tirar uma casquinha do seu popular ministro, mas ainda não se arrisca a perdê-lo.
Tudo somado e subtraído, o resultado deve ser mesmo a confirmação de Augusto Aras. Apesar de suas cautelosas declarações públicas, nos bastidores ele já age com a certeza de ser o escolhido. Tem feito sondagens e convites para montar a equipe. Seus aliados dão como certas a escolha do procurador Ailton Benedito, chefe do Ministério Público Federal em Goiás, como vice-procurador-geral. Seria inclusive um desagravo por seus colegas terem vetado sua indicação por Bolsonaro para a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos na ditadura militar.
O projeto de Augusto Aras é reverter a hegemonia da centro-esquerda no Ministério Público. Ele já sondou o procurador aposentado Eitel Santiago, que sempre foi influente na parcela mais conservadora no colegiado de subprocuradores, para tocar a administração como secretário-executivo da PGR. Também estaria na sua mira Odin Brandão Ferreira, muito respeitado entre os colegas de todas as correntes, para coordenar a equipe do MPF no Superior Tribunal de Justiça.
A conferir.