As crises políticas expõem os mais variados instintos. O mais forte deles é o instinto de sobrevivência. É impressionante seus prodígios quando ele entra em ação. A história é repleta de exemplos.
Nos momentos mais dramáticos, costuma aparecer, em suas variadas dimensões, algum tipo de bruxaria. Às vezes, literal, como no porão da Casa da Dinda no estertor do governo Fernando Collor.
Como bem definiu Helena Chagas, a tal espionagem contra o ministro Edson Fachin, denunciada por Veja, é uma Operação Tabajara.
Por todo e qualquer critério.
A suposta descoberta pelo governo de uma suposta viagem de Fachin em um jatinho da JBS estava sendo alardeada na Câmara por boquirrotos da tropa de choque de Michel Temer. Não dá para levar a sério uma conspiração na qual participariam deputados como Carlos Marun, Fausto Pinato…
Não é esse tipo de trapalhada, movida a desespero, que dá alguma expectativa de sobrevivência ao governo Temer.
Tem jogo mais profissional sendo jogado.
Na sexta-feira (9), comemorava-se no Palácio do Planalto duas vitórias. Uma, a entrega por Gilmar Mendes da absolvição no TSE, se concretizou. A outra está prevista para essa segunda-feira (12): a manutenção do apoio dos tucanos ao governo.
O entorno de Temer estava confiante na entrada em cena de Fernando Henrique Cardoso para evitar a debandada dos tucanos. O que se diz ali é que FHC estaria agindo, a pedido da elite financeira, para assegurar a aprovação de reformas capazes de evitar que o país entre de vez no buraco.
Com o mesmo propósito, Fernando Henrique teria feito outro movimento ainda de maior interesse dos atuais inquilinos do Palácio do Planalto: ele teria ponderado à família Marinho, dona do grupo Globo, que a queda de Temer agora mais embaralha do que clareia o jogo.
Há versões diferentes sobre essa conversa. Uma delas é de que FHC teria ido ao Rio de Janeiro, em uma espécie de missão a pedido do chamado Pibão. A outra, contada por um ex-ministro ainda muito ligado a Fernando Henrique, é de que os irmãos Marinho foram a São Paulo para uma avaliação sobre a crise política.
As duas versões coincidem em um ponto: FHC teria sugerido aos Marinhos que a TV Globo pegasse mais leve com Temer.
Essa conversa teria ocorrido há mais de uma semana. De lá para cá, o Jornal Nacional, motivo maior da preocupação palaciana, não deu nenhum sinal de mudança.
Os tucanos, por sua vez, diziam que qualquer fato novo relevante poderia influenciar sua decisão sobre a saída do governo Temer.
A capa da Veja sobre o uso da Abin pode ser esse fato.
A conferir.