No começo do ano foi acertada uma estratégia entre ministros do STF e caciques políticos para cortar as asas de Sérgio Moro, alçado à condição de superministro, e barrar os avanços da Operação Lava Jato. Desde então essa é a pauta de fundo nos bastidores dos poderes. A aposta em um inquérito no Supremo tropeçou na tentativa de censurar a imprensa. Gastou-se muita energia no Congresso sobre o destino do COAF, uma questão que parecia menor, mera troca entre seis e meia dúzia.
O que parecia com alguma solidez nessas empreitadas foram as tentativas de caciques políticos suspeitos, investigados, acusados ou condenados de reversão desse jogo. Mesmo quando exibiram cartas fortes, mostraram algum cacife, colheram fiascos.
Uma nova ofensiva está em curso. Desta vez aposta-se em várias frentes simultâneas. Uma delas é a cobrança no STF, agora com o aval da OAB, da anulação dos processos contra Lula por um suposto grampo, dois anos atrás, de um ramal do escritório de advogacia de Roberto Teixeira — advogado, compadre e acusado de cúmplice em denúncia contra Lula. Filme velho, vencido.
Nesse domingo, o site The Intercept Brasil trouxe uma história nova. Divulgou trocas de mensagens interceptadas por um suposto hacker entre procuradores da Lava Jato e outras entre o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, e o então juiz Sérgio Moro. Trocaram figurinhas e acertaram estratégias.
Pelo histórico dos escândalos no país, o conteúdo é mais relevante do que a discussão sobre a legalidade do acesso a essas informações. Não dá para quem pisou na bola se esconder atrás de quem desvendou legal ou ilegalmente essa falha. São, portanto, da maior relevância o que revelou o site The Intercept até agora. Mas em que o papo entre procuradores ou nas conversas com Moro avançaram o sinal? Pelo que até agora foi divulgado, revela-se mais cumplicidade de relações pessoais do que comprometimento nos diálogos. Como outras empreitadas de sucesso, a Lava Jato também virou uma panelinha.
O que diferencia o comportamento dessa turma de quem está na linha de frente em outros casos, incluindo aí a troca de figurinhas com jornalistas e advogados de defesa? Qual a diferença de alguns ministros do STF acertarem estratégias com caciques políticos que, ao fim e ao cabo, serão decididas pelo próprio Supremo?
Há quem veja grandes diferenças. Por essa ótica, a Lava Jato extrapolou as regras democráticas e deve ser exemplarmente enquadrada. Pelas mensagens que recebi durante a madrugada, isso será uma tarefa do tal inquérito comandando no STF pelo ministro Alexandre de Moraes. Me dizem que, desde o seu início, Gilmar Mendes tem dito a todos os interlocutores que apareceriam provas sobre uma suposta conspiração da Lava Jato. Elas agora estariam vindo a público.
Advogados de defesa de réus na Lava Jato pegam ainda mais pesado. Um deles, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, talvez o principal guerrilheiro dessa turma, entrou pela madrugada dessa segunda-feira pregando a demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e o enquadramento de todos os procuradores da Lava Jato por formação de uma organização criminosa. Ele me disse que não estar pedindo nada exagerado. Na sua avaliação, pelos crimes que teriam cometidos, Moro e os procuradores da Lava Jato deveriam ir para a cadeia.
E Lula ser solto.
Simples assim.