Nessa sexta-feira (9) começou a propaganda eleitoral na televisão, que cresce de importância nesses tempos de pandemia em que uma considerável parcela da população permanece confinada em casa. Além dos decisivos temas municipais, especialmente nas grandes metrópoles questões nacionais entram em debate. Alguns apresentam em suas campanhas ligações com líderes políticos nacionais que supostamente beneficiariam suas candidaturas. Pode ser um tiro no próprio pé.
Em São Paulo, por exemplo, Celso Russomanno aposta no apoio do presidente Jair Bolsonaro para superar a fama adquirida em outras eleições de cavalo paraguaio – bom de largada e ruim de chegada. Lançou um jingle em que diz numa rima pobre “se Bolsonaro está apoiando, São Paulo sai ganhando”. Ele já tentou no primeiro debate entre os candidatos colar sua imagem em Bolsonaro. Pode estar aí a explicação para a subida de sua rejeição de 21% para 29% no intervalo de duas semanas entre as pesquisas do Datafolha.
Na pesquisa dessa semana, nada menos que 63% disseram que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por Bolsonaro enquanto 16% seguiriam a sugestão do presidente. Se vale como consolo, o ex-presidente Lula também tem alta rejeição no eleitorado paulistano. 54% dizem que não votam em que ele apoiar, mas 21% o atenderiam. Essa, aliás, é a aposta do candidato petista Jilmar Tatto sair da incômoda companhia dos nanicos na rabeira da pesquisa, mas quem até aqui vem conquistando essa parcela do eleitorado é Guilherme Boulos, do Psol. Faz tempo que Lula não dá ibope em São Paulo — chegou a ser escondido em 2016 na reta final da campanha no esforço saideiro de Fernando Haddad para chegar ao segundo turno contra o tucano João Doria. Doria, por sinal, para infelicidade do prefeito Bruno Covas, consegue a proeza de obter números de rejeição na capital paulista piores que Bolsonaro e Lula.
São Paulo é apenas o maior exemplo de que nas principais capitais do país a suposta polaridade entre Bolsonaro e Lula na política nacional parece ser uma falsa equação. Como na capital paulista, a pesquisa do Datafolha sobre a influência desses dois caciques nas eleições no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e no Recife também se mostra um fiasco. Nas três capitais do Sudeste, a maioria absoluta dos ouvidos pela pesquisa dizem que não votam em candidatos indicados por nenhum dos dois. No Recife, o vexame de Lula é menor: influencia o voto de 35% dos eleitores enquanto outros 41% dizem que não votariam em um candidato por ele indicado. Ali, Bolsonaro toma uma surra: 63% a 16%, uma mega rejeição.
Belo Horizonte é uma mostra de como esses dois caciques estão descolados da realidade. O mais interessante ali nem é que o prefeito Alexandre Kalil, com atuação aprovada no combate ao novo coronavírus, está fazendo seus adversários comerem poeira. Em sua live semanal no facebook, gravada nessa quinta-feira no Pará a bordo de um navio da Marinha, entre um xingamento e outro, Bolsonaro anunciou: “Quando faltarem duas quintas-feiras para as eleições, vou fazer campanha para alguns candidatos no Brasil”. Citou duas capitais — Belo Horizonte e Fortaleza.
De acordo com o Datafolha, Kalil tem 56% de intenções de voto em BH. O candidato tido como o preferido de Bolsonaro, Bruno Engler (PRTB) larga apenas com 3%, unzinho a frente do petista Nilmário Miranda (2%), na cidade em que o PT reinou em seguidas administrações. Os que lá dizem que não votam em ninguém indicado por Bolsonaro são 53%, empatado na margem de erro com a rejeição de Lula ( 57%). A pesquisa não consultou sobre a influência do ex-governador tucano Aécio Neves — pelo desempenho da candidata do PSDB, Luisa Barreto, que sequer pontuou, deve ser muito negativa.
A maior concorrência no Rio de Janeiro, onde a corrupção não para de correr solta ( mesmo com alguns na cadeia), é sobre quem é mais rejeitado. Segundo o Datafolha, 59 não votam de jeito nenhum em candidato indicado por Bolsonaro — até agora parecia ser o prefeito Marcelo Crivella, outro recordista de rejeição. O Centrão, sempre ele, está fazendo a cabeça de Bolsonaro para não entrar na campanha e apoiar por baixo dos panos o favorito Eduardo Paes. Malandragem pouca é bobagem. Lula, que já nadou de braçada no Rio de Janeiro, parece que não ajuda muito sua candidata Benedita da Silva — embolada na disputa pelo segundo lugar com a candidata do PDT, Marta Rocha, e Crivella. 58% dos entrevistados no Rio dizem que não votam em candidato apoiado por Lula.
Nessa campanha eleitoral atípica em plena pandemia, essa é uma das fotografias da largada. Seus resultados podem não ajudar postulantes presidenciais em 2022. Mas podem atrapalhar.
A conferir.