O ministro Paulo Guedes foi apresentado ao elenco como a cloroquina, solução para todos os males. Perfilado com Sérgio Moro, foi exibido como craque para reforçar a equipe. Era o galáctico contratado para, na grande área econômica, entortar todos os beques que travavam o crescimento. “Pergunta pro Paulo Guedes” invadiu os campos brasileiros depois do capitão Bolsonaro confessar que é perna de pau na matéria. Depois de 20 meses como titular absoluto Paulo Guedes é a imagem do atacante – outrora impetuoso – deslocado. O posto Ipiranga vai se convertendo no deposto Ipiranga.
Parte da desidratação em campo é derivada da catimba que marcou os últimos meses. Guedes treinou, transpirou, mas não apresentou em campo as ousadas jogadas ensaiadas do período eleitoral. Manteve uma relação de caneladas incompreensíveis com o parlamento, responsável pelo apito final dos projetos no jogo democrático. As promessas não honradas geraram entre os espectadores um apelido nada abonador: “ministro da semana que vem”. A meta de zerar o déficit no um ano de governo ficou mesmo no zero a zero, assim como a maioria das prioridades da equipe econômica.
Da escalação inicial de 19 metas, apenas duas evoluíram, registrando um saldo de gols negativo da equipe. A mudança no regime de exploração do petróleo está no banco de reservas no Senado. Na mesma condição encontram-se parados o novo marco das ferrovias, do setor elétrico, as PECs dos fundos públicos, a emergencial e a do pacto federativo que ensaia uma ofensiva faltando 3 meses para o encerramento do turno, o recesso de final de ano. Duas medidas provisórias, da Casa da Moeda e a do emprego verde e amarelo foram anuladas pois estouraram o tempo regulamentar.
Na Câmara o departamento médico está abarrotado de projetos inabilitados. Dormitam por lá, sem estimativa de recuperação, a autonomia do Banco Central, a certificação digital, a mudança na lei de concessões, a alteração na lei de finanças públicas, a privatização da Eletrobrás e simplificação do câmbio. Os tentos de Paulo Guedes foram a mudança no marco do saneamento – gol contra uma vez que o mundo voltou a nacionalizar esse serviço – e a reforma da previdência, treinada e ensaiada durante o comando do técnico Michel Temer. Guedes não conseguiu escalar os estados na reforma.
Os mais difíceis rachões enfrentados pelo ministro, quase sempre, foram encerrados com dribles e cartões amarelos públicos do cartola do time. A própria mudança na previdência, na tática de Guedes, seria com o modelo de capitalização, que rebaixou o Chile à divisão da várzea previdenciária. A ideia no vestiário, iniciar a capitalização com os recursos do FGTS, foi arquivada por decisão do capitão. Também não encontrou receptividade nos camarotes e arquibancadas do Congresso Nacional. As hesitantes reformas administrativa e tributária ainda são dúvidas e estão sob a validação do VAR congressual. Também estão ameaçadas pelo cronômetro dos dois intervalos, das eleições municipais. A CPMF dificilmente será inscrita.
A fixação de Paulo Guedes pela bandeira da CPMF, condenada por ser cumulativa e regressiva, enfrenta a forte marcação do presidente da Câmara e chegou a ser o pivô de troca acusações entre as organizadas de Rodrigo Maia, Guedes e a equipe econômica. O ministro da Economia e o presidente da Câmara estão rompidos.
Pontapés típicos das divisões de base que reforçam a desconfiança da torcida de que não há chances de melhorar. Paulo Guedes pretender isolar Maia no campo político é jogar contra o patrimônio. A CPMF já foi desautorizada muitas vezes pelo volátil capitão e foi o motivo do carrinho por trás que derrubou Marcos Cintra da Receita, há 1 ano. O real motivo da substituição de Cintra foi outro e tem relação com as pedaladas nas investigações de ministros do STF.
Cintra foi a 1 baixa da equipe em setembro do ano passado. Depois o desfalque foi ampliado pelo secretário do Tesouro, Mansueto Almeida em junho deste ano. Também saíram de maca Caio Megale, da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda, Rubem Novaes, da presidência do Banco do Brasil e Marcos Troyjo, da Secretaria Especial do Comércio. Outros romperam os contratos posteriormente: Salim Mattar, então secretário de Desestatização e Paulo Uebel, ex-secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. A desmotivação é evidente.
Nas últimas rodadas a banheira de Paulo Guedes envolveu o auxílio emergencial. O valor inicial, defendido pela retranca de Guedes, era de R$ 200. O piso foi elevado para 600 nos 2 tempos do jogo no Congresso. A ofensiva para transformar o benefício em substituto do Bolsa Família, o Renda Brasil, provocou novas lesões. Guedes queria cortar reforços sociais de várias fontes para escalar o Renda Brasil. Levou um pito público do árbitro: “Quem porventura venha propor para mim uma medida como essa só posso dar um cartão vermelho”, disse se referindo ao elenco de sugestões tirando dos “pobres para os paupérrimos”.
Guedes, mais uma vez foi desarmado pelo capitão Bolsonaro. Preferiu engolir o esporro e tentou terceirizar o cartão vermelho para o gandula, no caso um subordinado que gritou antes do final do jogo o resultado da bilheteria para o Renda Brasil. Antes disso Guedes já fora advertido em posição irregular diversas vezes. Na MP 927 que registrava na súmula a suspensão do contrato de trabalho por 4 meses sem compensações aos trabalhadores e no chamado imposto do pecado, sobre bebidas. Afinal o capitão do time quer tomar cerveja com o 11 homem do STF.
Durante o tempo que permaneceu no gramado, Guedes fez muita firula, mas não demonstrou rendimento à altura dos artilheiros em clássicos econômicos. Hoje está visivelmente mancando em campo. O PIB pré-pandemia era digno de rebaixamento, as elevadas taxas de desemprego exibiram uma verdadeira pelada, marcada pela desorganização, assim como a fuga recorde de investidores. O pós-pandemia, apesar das coletivas para explicar pontapés e frangos, aponta para um aprofundamento da crise empurrando a economia para divisões inferiores. O desemprego é o que mais preocupa.
“Os conselheiros do presidente que estão aconselhando a pular a cerca e furar o teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal. O presidente sabe disso, o presidente tem nos apoiados”, declarou Guedes. Nas arenas do futebol os técnicos que acumulam derrotas são sempre ‘prestigiados’ pelas diretorias às vésperas do vermelho. Guedes pode estar na marca do pênalti e nos minutos finais da prorrogação, rumo ao banco, de reservas ou do mercado financeiro. Sem placar positivo no curto prazo, será substituído por qualquer atleta que abrace o histórico do populismo econômico.