O presidente interino Michel Temer não levou nem uma hora, depois de ler o Estadão, para soltar nota desmentindo afirmação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que, se seu governo for bem depois de confirmado o afastamento de Dilma Rousseff, será candidato à reeleição em 2018.
Michel sabe o perigo que representa para ele esse tipo de afirmação – confirmada também por declarações em off de outros políticos na Folha. É o suficiente para desagregar uma base de apoio (e um governo) que tem vários candidatos. Só o PSDB, hoje um aliado vital do interino, tem três:Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves.
Dizer agora, antes da votação final do impeachment no Senado, que Michel Temer é candidato em 2018 é nitroglicerina pura. E pode significar também a perda do apoio no Congresso e da governabilidade mais adiante, mesmo com o presidente já efetivo.
Nada disso quer dizer, porém, que ele não será candidato. No entorno do presidente interino, onde predomina o pragmatismo e ninguém vai cometer sincericídio falando em público, a convicção é uma só: tudo vai depender de seu desempenho. Se Michel chegar ao início de 2018 com boa avaliação – o que pressupõe a difícil superação da crise econômica – ninguém segura sua candidatura.
Até lá, porém, muita água ainda haver rolar. E, mesmo na hipótese mais favorável, o presidente interino terá que superar pelo menos dois grandes obstáculos: o processo eleitoral que pode torná-lo inelegível e a pressão dos tucanos e outros aliados pela aprovação da emenda que acaba com a reeleição.