O Banco Central (BC) deixou em aberto a possibilidade de promover mais uma queda nas taxas de juros em 2020, o que apenas indica o agravamento da crise do COVID 19 sobre a paralisia da economia. Com o atual patamar do número de mortos e a possibilidade de uma segunda onda de contágios, as atuais taxas de juros de 2,25% pouco contribuem para a decisão das empresas aumentar produção ou gerar empregos. Sem aumento no consumo e esperança de que a economia voltará a normalidade, o setor produtivo fica em compasso de espera. Isso sem falar nas milhares de pequenas e médias empresas que estão com suas portas fechadas.
A queda dos juros e o aumento da oferta de dinheiro no mercado, como tem sido observado no Brasil e exterior, na realidade tem contribuido para alavancagem dos investimentos no mercado de capitais, que continuou operando, mesmo com a pandemia, a todo o vapor. O economista americano Paul Krugman alertou em artigo publicado na última semana a existência de um descolamento grande entre o nível de atividade da economia dos Estados Unidos patamar das bolsa de valores daquele país. Ou seja: os investidores estão pagando um preço superior ao que de fato valem as ações das empresas. Se de fato isso vem ocorrendo, Krugman teme quando esta bolha estourar os governos terão que lidar com mais um crise econômica.
Aqui no Brasil o fenômeno é semelhante, a Bovespa tem operado muito próximo aos 97 mil pontos, bem acima dos 63,5 mil que atingiu em 23 de março, no início da crise do coronavirus, em parte pelo aumento do número de investidores em busca de rentabilidade. Para novos investidores a possibilidade de ganho acima da rentabilidade das taxas de juros é muito atrativo. O risco de perda neste mercado é real e pode levar a poupança de muitos brasileiros pro ralo.
É que a realidade do setor real da economia é de grande incerteza. O número de desempregados cresce a cada dia. As pessoas empregadas estão segurando o consumo com medo do cenário futuro, o comércio operar com precariedade e a indústria esta operando a abaixo da sua capacidade de produção.
A autoridade monetária está seguindo as normas e protocolos dos Bancos Centrais do resto do mundo para enfrentar a crise de liquidez no sistema financeiro com injeção de recursos e redução dos juros básicos. A eficácia da queda das taxas de juros utilizada antes da crise do coronavieus e teve pouco impacto sobre a retomada do crescimento, como foi observado ao longo do ano de 2019, em função da perda de emprego, renda e investimentos públicos e privados. Diante da magnitude da atual crise de liquidez uma queda da taxa selic contribui muito pouco para expansão da demanda agregada da economia. O maior beneficiado, na verdade, é o Tesouro Nacional que vem, reduzindo os custos de emissão ou rolagem da sua dívida pública.
Com as medidas de injeção de dinheiro na economia com pagamento do auxílio de R$ 600 milhões de brasileiros, sem fala na liberação dos recursos do FGTS e linhas de crédito, ocorreu uma expansão dos maios de pagamentos, especial o M1, papel moeda em poder do publico e depósitos a vista. No entanto,ainda não há dados sobre o impacto destes recursos de consumo das famílias e o setor produtivo. Só com a divulgação do Produto Interno Bruto(PIB) do segundo trimestre é que teremos uma ideia do tamanho do buraco, que não será pequeno. O certo é que uma maior oferta de moeda em uma situação em que os juros nominais estão muito próximos aos números de inflação contribuem muito pouco, como já previa Keynes, para estimular a atividade econômica.
Diz Keynes: “a medida que a taxa de juros cai para zero a demanda torna-se horizontal. Isso implica que quando a taxa de juros e igual a zero, aumentos adicionais de oferta de moeda não produzem efeito sobre a taxa nominal de juros”.
Roberto Campos Neto tem dito que não é com emissão de papel moeda que a economia vai se recuperar,mas esta de mãos atadas pelas circunstâncias da crise e pela necessidade de atender a população mais pobre do País. Ele sabe que juros nulos ou até negativos tem baixa potencialidade na política monetária. A recuperação da economia vai depender da conquista de um equilíbrio fiscal e de investimentos públicos e privados em infra-estrutura e setor produtivo.