Há estragos tão destrutivos que nem os melhores remendos consertam. A prisão de Fabrício Queiroz no refúgio que o advogado Frederich Wassef tentou esconde-lo é um deles. Não há versão que se crie que tire o clã Bolsonaro da cena do crime.
Nesse domingo à noite, Fred Wassef anunciou que estava renunciando a ser advogado de Flávio Bolsonaro e de seu pai presidente da República, Jair Bolsonaro. Tudo previsível desde que o refúgio caiu. Um parceiro de Fred me disse que não havia hipótese dele ser um homem-bomba enquanto negócios com o governo que ele teria interesse fossem mantidos.
Como mostra a forma em que foi descartado, o advogado Fred comprova ser uma peça menor. Fabrício Queiroz é o que importa de verdade para a família Bolsonaro. Ele é o faz tudo do clã, cuida da grana e da segurança de todos, há décadas. Foi também grande cabo eleitoral. Foi quem fez a ligação dos Bolsonaros com as milícias que sempre se beneficiaram e também os ajudaram no conjunto dessa obra.
O problema é que a prisão de Queiroz — muito mais até do que a morte do capitão miliciano Adriano na Bahia — traz a bandidagem de Rio das Pedras para Brasília. Por mais que pareça inacreditável para quem ache que viu de tudo nos tapetes verde, azul e de todas as cores na capital da República, a pior face das favelas cariocas ainda não havia batido na porta. As milícias virtuais e reais tão pedindo passagem.
É preciso barrá-las antes que contaminem a República.
Passou da hora. Jair Bolsonaro e seus filhos têm que se explicar. Não adianta se esconderem atrás de imaginárias revoluções culturais. O que está posto na mesa, por todo e qualquer ângulo, é que são suspeitos de envolvimento com crimes. Seja o de corrupção, como a rachadinha com robustas provas de mesada para a família, ou o envolvimento com a milícia e seu amplo cardápio de crimes.
Até agora loucuras de Bolsonaro — como a negação da pandemia do novo coronavírus– têm sido matadas no peito, alguns a contragosto, pela elite militar. Ele conseguiu, por exemplo, sensibilizar os generais com queixas de que alguns de seus atos, como a nomeação de um diretor da Polícia Federal, terem sidos barrados no STF. Nesses casos o ajudou a cultura militar da hierarquia e disciplina.
A prisão de Queiroz deu um nó nessa narrativa. Ele e as milícias são a própria negação da ordem, disciplina, hierarquia, e tudo o mais que rege as Forças Armadas. Mas é mais do que isso. As milícias são a negação nessas comunidades do estado e, principalmente, da democracia. É um absurdo, por exemplo, que no Rio de Janeiro, além de seus maus governos constitucionalmente eleitos, grande parte de seu território ser governado por essa e outras bandidagens.
É essa a conta que está chegando a Brasília. Cai no colo dos poderes da República resolver inclusive sobre os custos das múltiplas relações de Bolsonaro com Queiroz. Somado e subtraído, o preço republicano a ser pago depende do tamanho do estrago efetivo e potencial dessa enrolada família. Pode ter desconto se for abreviado.
A conferir.