A responsabilidade não é uma qualidade que tem uma tradução única e imutável. Ela deve se adaptar à realidade. Somente irresponsáveis bradam por regras que não servem mais.
É o que acontece agora no debate sobre a manutenção ou não da lei do TETO de gastos. Os liberais, fanáticos por sua manutenção, falam em credibilidade e respeitabilidade para atrair investimentos externos.
Balela! As empresas internacionais serão convocadas para investir em seus países. Neles também há crise econômica e a perspectiva é de recessão. Neles também será preciso enfrentar o desemprego.
Os senhores acham que o liberal presidente americano vai deixar o mercado leve, livre e solto, com o desemprego batendo em sua porta. Ele já está intervindo na economia agora. Imaginem o que fará em seguida com a campanha por sua reeleição atordoando sua cabeça.
E os europeus? Vão criar empregos e ativar as economias de seus países ou apostar na economia do senhor Guedes e seus doces irmãos de credo. Assim como na vida pessoal, de cada um de nós, um país também deve se adaptar às condições de temperatura e pressão.
Pergunto: qual a respeitabilidade externa de um país em guerra interna. Ou os liberais acham que esta regra só vale para a Venezuela? A inexistência de um programa nacional para ativar a economia nacional e atenuar as carências sociais vai colocar o povo na rua.
Todos vão pedir emprego, para comer etc. Os eleitores mobilizados pelas diversas vertentes de oposição ao presidente da República. Os eleitores que votaram nele e que ainda o apoiam. Todos esperam pela mão estendida do Estado. Todos podem ir as ruas, mesmo ocupando pistas diferentes. Eles podem protestar pela mesma bandeira e entrar em guerra nas ruas. Imaginem?
O julgamento do TETO não poderia ocorrer em melhor hora. Esta no poder um presidente que dá corda aos liberais. Mas diante da atual conjuntura, este mesmo presidente pode mandar esta regra às favas para tentar sobreviver. O ex-ministro da Saúde e do Planejamento do governo FH, José Serra **, resume nossa situação hoje: “déficit público amplo representa uma medida de enorme responsabilidade fiscal”.
** Entrevista publicada no Jornal O GLOBO.