O presidente continua apostando no caos. Aqui, na Europa, vê-se mais de perto como se portam os líderes europeus diante do flagelo. Mobilizam todos as forças do país contra a pandemia. E a batalha segue dura, com a vitória até aqui do vírus.
Dividido por um presidente que aposta no caos, na cizânia, o Brasil se distância do mundo civilizado no trato da chaga que ronda o país. De fato, a posição de Bolsonaro sobre a epidemia contraria a política da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda que as pessoas não saiam de casa, a fim de conter a velocidade de propagação da epidemia.
Como disse o jornalista Luiz Carlos Azedo, do Correio Braziliense, Bolsonaro defende uma espécie de salve-se quem puder: “A quarentena vertical tem que começar pela própria família. O brasileiro tem que aprender a cuidar dele mesmo, pô”, disse.
Num ato de reminiscência histórica, o presidente da República lembra o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo (1837-1897) na Guerra de Canudos – conforme Euclides da Cunha, em os Sertões. O coronel Tamarindo, que assumiu o comando da terceira expedição contra o povoado, após a morte de Moreira César, entrou para a história ao comandar a debandada das tropas: “É tempo de murici, cada um cuide de si…”. Assim como o coronel Moreira Cezar – seu antecessor – também derrotado pelas tropas de Antônio Conselheiro -, Tamarindo foi esquartejado pelos jagunços.
A mentira, o diversionismo, a falta de patriotismo e o descompromisso com a defesa da saúde da população, juntas, somadas, não são suficientes para definir a síntese do que o país vive. O estarrecimento que grassa no país replica com força no mundo. A revista inglesa The Economist, em sua edição impressa, trata o presidente brasileiro de “BolsoNero”, dizendo que ele “brinca” enquanto a pandemia avança sem controle no Brasil. Já a alemã Der Spiegel, o trata de “O último negacionista”, ao lembrar que, da chanceler Angela Merkel ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi, todos passaram a adotar o isolamento.
A atuação errática do Presidente da República, que ora minimiza a extensão e a gravidade da doença, ora acusa de exagerada as medidas de redução de danos adotadas pelos governadores, enseja quadro de conflito institucional e desobediência civil. Noves fora a crise econômica, social e sanitária, a atuação do líder do país passa longe de ajudar na resolução dos problemas. Ela degrada mais a vida institucional e aumenta a tensão social em paralelo à crescente pandemia.
O golpe de 1964 teve como pretexto a agitação social promovida pela esquerda. O Brasil de 2020 não merece outro pretexto.