Recém chegado ao Império do Sol Nascente, Jair Bolsonaro previu hoje que a crise do PSL vai “cicatrizar naturalmente”, como uma ferida. Com certeza, já sabia que seu pessoal iria apresentar um novo requerimento à Mesa da Câmara e que o líder Delegado Waldir iria abrir lugar para Eduardo Bolsonaro. Agora, a pergunta que não quer calar é: o que Waldir levou?
À primeira vista, o enorme potencial de estrago dessa briga, capaz mesmo de implodir o presidente da República, poderia ser suficiente. Mas não é bem assim que funcionam as coisas. No clima em que andavam, a derrubada de Waldir provocaria um tsunami de reações do delegado contra o governo, contando tudo o que todo mundo fez no verão passado – aliás, como ele próprio ameaçou na quinta-feira.
Só que ainda não. O delegado renunciou e anunciou também a desistência do PSL em suspender os cinco deputados bolsonaristas que haviam sofrido essa sanção na sexta-feira. Não estamos ainda no verão, mas alguém fez alguma coisa no fim de semana passado.
A “eleição” de Eduardo Bolsonaro como líder do PSL resolve um baita problema doméstico na família. Será menos vexaminoso varrer para debaixo do tapete sua frustrada indicação como embaixador em Washington. Mas todo mundo sabe que sua presença no comando da bancada, até por suas características pessoais, não representa exatamente uma pacificação.
O fato de o deputado ter passado o fim de semana trocando ofensas de baixo calão com a ex-líder Joice Hasselmann pelas redes mostra que não há muita chance de se baixar o fogo. Joice vai hoje à noite ao programa Roda Viva, da TV Cultura, e já antecipou, num tuíte endereçado à família Bolsonaro e seus amigos, que sabe o que eles fizeram no verão passado. Ninguém duvida disso, nem de que eles saibam o que Joice e toda a bancada do PFL tem feito em seus verões.
Resta saber se Waldir e outros foram pacificados ou não. Caso contrário, o relato sobre as as atividades do verão vão expor a milícia digital do bolsonarismo e sua atuação na campanha eleitoral de 2018 – temas, aliás, que já são objeto de investigação na CPI das Fakenews. O palco está pronto, e as revelações podem ir da participação de recursos estrangeiros nesse esquema à identificação de IPs de computadores localizados nos mais inusitados lugares da administração federal propagando calúnias, agressões e, claro, fakenews.
Já se viu neste país impeachment por muito menos que isso, não é mesmo?
É por aí que políticos experientes acham que a ferida não vai cicatrizar, mas que os dois lados estão, por enquanto, botando nela grossas camadas de esparadrapo. Tentam evitar que ela continue sangrando, infeccione, cause uma septicemia e mate os pacientes – que, nesse caso, deviam se chamar impacientes.