Podcast IdealPolitik – O povo, unido, governa sem partido?

 

Podcast IdealPolitik – O povo, unido, governa sem partido?

– Olá, este é mais um podcast IdealPolitik, especialmente para Os Divergentes. Aqui, vamos tratar, toda semana, do reality show da política e, desde a semana passada, você tem acompanhado a crise no PSL.

— Muita coisa se diz a respeito da motivação do presidente Bolsonaro de sair. Mas, veja logo que todas são interpretações mentais de cada analista. Você não é obrigado a defender nenhuma como a sua. Mas, já se percebeu se comportando assim?

– A sua interpretação dos fatos faz diferença porque se une à percepção de outras pessoas, formando a onda que não pode ser manipulada pelas elites políticas porque vem de baixo para cima, pela atenção plena do contexto e dos que estão em cima.

— Infelizmente, às vezes as pessoas pensam que sua opinião ou voto, por serem apenas um, não farão diferença, mas o processo que leva a eles influencia e é influenciado por familiares, amigos, alunos e parceiros…

– A minha percepção é que, ao se mostrar insatisfeito com a gestão das contas do partido, ao qual se filiou apenas porque a lei o obrigava, Bolsonaro se dá como exemplo de inconformidade em conviver com a corrupção da política tradicional. Levantou, sutilmente, a bola das candidaturas avulsas, aquelas sem a necessidade de partido, e, de relance, deu argumentos que responsabilizam a cota eleitoral de mulheres pelo suposto malfeito, como se elas fossem culpadas pela decisão de se fraudar uma lista para desviar recursos para terceiros.

– Observe que antes de qualquer tese, o fato é que não se trata disso. Típica Janela de Overton, é um argumento agregado para fazer a sociedade aceitar tanto a fraude quanto a revisão da reserva de recursos e vagas para candidaturas do sexo feminino. Mas também repare que isso jamais foi proposto por Bolsonaro.

– Já a hipótese das candidaturas avulsas serviriam para eliminar as barreiras entre a sociedade e a política, que seriam, por sua vez, os partidos e suas cúpulas, assim como as redes sociais teriam feito, extirpando o intermédio da imprensa na comunicação direta entre líderes e bases.

– Todavia, com esta fórmula, preservadas as regras atuais, personalidades do showbusiness, do mainstream e agentes econômicos autofinanciados poderiam disputar com mais chances. Claro que eles podem e devem se manifestar na política, inclusive se propondo a representar o interesse coletivo.

– Mas, qual a resultante efetiva? A representação continuaria distorcida porque constrangida pelo poder econômico e midiático, tal como a política na internet, aparentemente neutra e livre, está moldada pela captura e uso não-autorizado de dados pessoais para customizar mensagens ideológicas e produtos; por algoritmos que identificam as preferências a partir daqueles dados; por disparos em massa de fake news financiados com verbas públicas ou de empresários.

– Seria apenas a troca de um establishment avaliado como decadente por outro, que tudo mudaria para manter tudo como está. E o que está posto: um Brasil que não seria para amadores, ironicamente quando foram os principiantes que, no ano passado, ensinaram os especialistas.

– Por outro lado, se antigas técnicas do sistema político falharam porque a sociedade se percebeu como manietada, a transformação da política em reality show, com torcidas pré-estabelecidas pela adesão a ficções compartilhadas, nada tem a ver com o cotidiano das pessoas comuns.

– Como escreveu a pensadora húngara Agnes Heller, “a estabilidade do sistema foi perdida. As ideologias substituem os interesses do eleitorado”. Todavia, curiosamente, a crescente rejeição da sociedade aos estabelecimentos, em todo o mundo, não se deve a esta ou aquela ideologia, mas à manifestação de um inconsciente coletivo cansado de esperar. Aquele sobre o qual nos ensinou Carl Jung.

– Sem despertar para o fato de que nada é fixo e nada é permanente, tomado pela fantasia das ideologias, o inconsciente coletivo autoriza e, ao mesmo tempo, se assusta com os ciclos políticos e econômicos, com apogeu e queda, tanto de líderes e projetos prediletos quanto das condições de vida, que começam melhorando e terminam piorando.

– Por isso, a História da humanidade é a história da esperança-frustração das pessoas e grupos com os desejos sugeridos por padrões de sucesso emanados do poder. É aqui que cresce a visão religiosa na política, para contrapor ao “tudo o que está aí” dos líderes tidos como enganadores algo maior do que eles e o sistema deles.

– No entanto, a melhor forma de organizar a representação política não é para anular a negociação, a persuasão e a convivência com as diferenças, que são aspectos positivos dos partidos como organizações humanas, uma das manifestações da verdadeira natureza de todos nós, que é a de animal político. A questão é que isso não é exclusividade dos chefes de partidos, nem dos executivos. É uma condição inerente a cada uma das pessoas.

– Você terceiriza sua responsabilidade com os rumos da sua vida e de sua comunidade? O tratamento que você dispensa às pessoas, seja você quem for, está ajudando elas a verem gentileza, respeito, apoio, acolhimento e compreensão ou formando verdadeiros Coringas, verdadeiros Jokers?

– A resposta a essas perguntas pode deixá-lo tranquilo porque você estará no caminho de ser, você mesmo, a representação que procura na política.

– Time is politics.

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