Olhando por detrás da fumaça. Observadores do óbvio em Brasília explicam a medida clara, mas aparentemente incompreensível, de o presidente Jair Bolsonaro mandar retirar pardais das rodovias federais, aumentar a tolerância do número de pontos para suspender a carteira de motorista e acabar com exames médicos para profissionais do guidom.
Estas medidas lançam um balde de água gelada na fervura que se formava no meio dos caminhoneiros, que publicamente ameaçam parar reclamando dos preços dos combustíveis e da baixa remuneração pelos fretes. Entretanto, pra não dizer que o Governo se rendeu aos homens (e mulheres, hoje em dia) das estradas, a notícia chega ao público com a interpretação mais evidente: visa beneficiar os Pintacudas de fim de semana que querem andar com pé no fundo pelas rodovias do País.
Por trás da nuvem de fumaça, estas medidas foram festejadas pelos caminhoneiros, autônomos e empregados, com fogos de artifício. Os DETRANs são os sócios mais ativos de quem vive e dirige.
As multas por excesso de velocidade em rodovias lentas demais para esses motoristas que viajam dia e noite, em vários milhares de quilômetros por semana, constituem uma sangria mortal. Quase todo o resultado de seu trabalho vai parar nos cofres dos estados que cobram e embolsam as infrações.
E aí o prejuízo não pega só autônomos, donos de seus caminhões, pois os motoristas empregados têm esses custos descontados de seus salários. As empresas não se responsabilizam por multas dizendo que, em seus regulamentos, está expresso com todas as letras que os condutores devem respeitar religiosamente todas as regras do trânsito.
Portanto, nenhum tribunal trabalhista vai reconhecer algum direito desses trabalhadores que infringem a legislação. As multas constituem um buraco sem fundo no bolso dos estradeiros.
O mesmo vale para o aumento dos pontos nas carteiras de motoristas. As multas por velocidade são as mais comuns.
Chegar aos 20 pontos pode ser a punição por uma viagem apressada, para cumprir um prazo ou para chegar à conta mínima para pagar a prestação do veículo comprado a prazo. Vinte pontinhos e os motoristas ficam afastados do trabalho e, no caso de reincidências, tendo de fazer cursinhos e se prestar a exames, deixando de cumprir seus compromissos.
É uma dura realidade. Por isto, em seu projeto encaminhado, o presidente sugeriu 60 pontos (ficou em 40 pontos) como linha fatal, para dar mais fôlego aos choferes.
Por fim, o caso dos exames toxicológicos, tidos como inúteis, pois nunca se referem à intoxicação do momento da abordagem. Melhor seria algum teste de estrada, tal como o bafômetro, que pega o alcoolismo da hora.
Neste exame toxicológico, se o motorista tomou ou aspirou alguma substância nos últimos três meses o teste acusa. Como no caso dos pilotos de avião.
Entretanto, uma novidade destas varreria das estradas todos os profissionais. Seria mais adequado algum teste que captasse a situação do momento.
Se estivesses dopado (o que ocorre com frequência, devido aos arrebites), o infrator seria retirado da estrada e devidamente enquadrado. Mais blitze e menos burocracia.
Em suma, os críticos não estão entendendo o real objetivo das medidas, enquanto Bolsonaro faz média com a classe média motorizada que adora voar nas estradas com seus carrões.
E os perigos? Não devem ficar muito maiores do que já são com as rodovias cheias de pardais e lombadas eletrônicas. Vários discursos na Câmara, onde o projeto será inicialmente analisado, já tratam disto, mas ainda não foram abordados nas mídias.