RENATA MOURA, DA AGÊNCIA BRASÍLIA
Criado há dez anos com objetivo de dar apoio às vítimas de violência, o Pró-Vítima está ganhando uma nova roupagem para contemplar seu principal público: o feminino. Agora, além do atendimento psicossocial, o programa vai avançar e realizar ações de engajamento das vítimas no mundo do trabalho, com a organização de feiras itinerantes. A iniciativa, batizada de Banco de Talentos, foi testada no início do mês e mostrou bons resultados.
“Organizamos a primeira delas aqui na sede da Sejus [Secretaria de Justiça]”, conta a subsecretária de Apoio a Vítimas de Violência, Juciara Rodrigues. “Reunimos 22 mulheres para expor trabalhos artesanais, culinária e produtos de beleza. Mais de 300 pessoas visitaram a exposição. Elas conseguiram arrecadar, num único dia, R$ 6 mil. Muitas delas esbarram em questões financeiras para se livrar do agressor, e essa oportunidade foi muito importante”.
Segundo Juciara, que pretende organizar pelo menos uma feira em cada cidade do DF, o Pró-Vítima, de fevereiro a abril, promoveu 384 atendimentos psicossociais, sendo 347 destinados a mulheres vítimas de violência doméstica. “É uma questão social muito séria que vem se agravando, mas que precisa ser combatida com diálogo e esclarecimento”, alerta.
A pasta, atualmente, elabora outra nova ação: levar para dentro das escolas públicas do DF vários debates sobre esse tema. “Em parceria com a Secretaria de Educação, no próximo semestre, queremos ajudar a promover seminários envolvendo alunos do ensino médio, para que sejam os protagonistas”, adianta a subsecretária. “Precisamos ampliar o debate para combater o preconceito e a violência dentro das casas, das famílias. É um debate que todos precisam fazer. ”
O foco no combate à violência, destaca ela, não pode ser apenas o apoio às mulheres vitimadas. “Precisamos envolver os homens e toda a sociedade. É um mal social, que precisa ser enfrentado agora para colhermos uma realidade diferente mais adiante. ”
Identificando agressões
A subsecretária destaca a importância da denúncia e reforça a necessidade de a pessoa agredida buscar ajuda aos primeiros sinais do agressor. “Muitas vítimas só percebem a violência quando há agressão física, mas a violência vem bem antes disso”, adverte. “As mulheres precisam identificar e interromper o ciclo o quanto antes. ”
Entre os sinais mais claros das agressões, Juciara cita perseguições, controle excessivo das ligações e mensagens telefônicas, xingamentos e ofensas pessoais, com objetivo de atacar a autoestima da mulher. “Esse comportamento inicial é só o primeiro ciclo e pode durar anos, mas a mulher precisa buscar ajuda para interromper tudo isso o quanto antes, porque, depois desse quadro de tensão psicológica, vêm as agressões físicas propriamente ditas. ”
Denúncias salvam vidas
A coordenadora do Núcleo de Assistência Jurídica de Defesa da Mulher, Dulcielly Nóbrega de Almeida, também fala da importância de buscar apoio, seja no Pró-Vítima, nas delegacias ou nas unidades do Centro de Atendimento Especializado à Mulher (Ceam). A defensora lembra que as orientações disponíveis podem ajudar a mulher a se encorajar para o registro da denúncia e, assim, evitar uma tragédia.
“A gente vê pelas estatísticas que a denúncia e as medidas protetivas salvam vidas”, avalia. “Apenas em 1,5% dos casos das mulheres vítimas de feminicídio, havia algum tipo de medida protetiva em vigência. Isso significa que, para muitos homens, a denúncia ou mesmo a medida protetiva fez a diferença, seja porque eles têm medo de perder o emprego ou de serem presos”.
De acordo com Dulcielly, o agressor da violência doméstica não tem um perfil definido. “Geralmente, é um trabalhador, pai de família, um homem comum. Ele tem medo da Justiça e vai respeitar a ordem judicial. Veja que 72% das mulheres que morreram não tinham nem sequer denunciado o agressor. ” Os dados são de pesquisa realizada em março pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF).
Assistência estendida
Os crimes de feminicídio e as agressões vividas por muitas mulheres acabam vitimando várias outras pessoas. Familiares, amigos ou quem mais, por algum motivo, assiste aos atos de fúria e barbárie também precisa de tratamento. No Pró-Vítima, psicólogos e terapeutas de grupo realizam oferecem especializado nesse sentido.
“São pessoas que de alguma forma vivenciaram a dor de outra pessoa”, explica Juciara Rodrigues. “Temos avós, mães, tias e irmãs – algumas que agora se veem na situação de cuidar dos filhos das vítimas e não sabem como lidar com isso. Imagine crianças que ficaram sem pai e sem mãe”.
A Sejus, informa Juciara, está apoiando um grupo de servidores que presenciaram o assassinato da professora Débora Tereza Correa, de 43 anos, ocorrido há uma semana. O autor do feminicídio era o ex-namorado dela, um policial civil que invadiu o prédio da Secretaria de Educação, na 511 Norte. “Eles estavam trabalhando e tiveram de lidar com o assassinato da colega, dentro do ambiente de trabalho, seguido do suicídio do agressor. É muita violência e mexe demais com as pessoas”, explica.
POSTOS DE ATENDIMENTO DO PRÓ-VÍTIMA
Sede: Estação Rodoferroviária, Ala Central, Térreo, Brasília, DF- CEP 70.631-900.
Núcleo Paranoá: Quadra 5, Conjunto 3, Área Especial D, Parque de Obras, Paranoá – DF, CEP 71.570-500.
Núcleo Plano Piloto: Estação 114 Sul do Metrô, Subsolo, Brasília – DF, CEP 70.377-000.
Núcleo Ceilândia: EQNN 5/7, Área Especial C Ceilândia Norte, Brasília, DF – CEP 72.225-540.
Guará: QELC Alpendre dos Jovens, Lúcio Costa, Guará, DF – CEP 71.100- 045.
CENTRO ESPECIALIZADO DE ATENDIMENTO À MULHER
Ceam 102 Sul – Estação de metrô da 102 Sul, Asa Sul, Plano Piloto. CEP: 70330-000. Telefone: 3223-7264 Localizador: https://goo.gl/maps/Gp8NWt7KVqm
Ceam Planaltina – Jardim Roriz, Área Especial, Entre quadras 1 e 2, Centro, Planaltina. CEP: 73340-112. Telefone: 3389-8189
Ceam Ceilândia – QNM 02 Conjunto F Lotes 1/3, Centro, Ceilândia CEP: 72210-020. Telefone: 3373 – 6668, funcionamento é de segunda à sexta das 8h às 18h, sem interrupção em horário de almoço.
NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
Oferece assistência jurídica às vítimas de violência doméstica com processos em tramitação no Fórum José Júlio Leal Fagundes. A unidade da Defensoria Pública acompanha os processos penais e confecciona as petições iniciais de família para essas mulheres. Os agendamentos de atendimentos ocorrem no período da tarde (12h às 19h).
Endereço: Fórum José Júlio Leal Fagundes – Setor de Múltiplas Atividades Sul, Trecho 3, Lotes 4/6, Bloco 4, Brasília. Telefones: 2196-4461 e 2196-4463.