Na lista das 98 pessoas com ligações com o presidente Jair Bolsonaro e com o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que tiveram os sigilos quebrados na investigação do caso Queiroz há dois nomes que precisam ser observados com o máximo de atenção.
São Valdenice de Oliveira Meliga e Alessandra Cristina de Oliveira. Valdenice era a tesoureira do PSL do Rio de Janeiro nas eleições do ano passado. Alessandra é a atual primeira-tesoureira. Em princípio, as investigações apuram a existência de esquemas de rachadinha. Ou seja: quando o político combina com o funcionário contratado ficar com parte do salário acertado entre os dois. Um tipo de esquema muito comum entre políticos do baixo clero. E que se desconfia fosse a razão da movimentação estranha que o Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf) identificou nas contas de Fabrício Queiroz, o assessor/motorista de Flávio que, como o personagem na música de Chico Buarque, “assim como veio, partiu não se sabe pra onde”.
Na campanha, Valdenice e Alessandra tinham autorização para assinar cheques em nome de Flávio Bolsonaro. É normal que tal autorização seja dada a tesoureiras, que são as pessoas que oficialmente estão designadas para lidar com o dinheiro do partido. O problema são as ligações que existem entre elas e entre elas e as milícias que atuam no Rio de Janeiro. É no aprofundamento dessas investigações que reside o perigo.
É, no mínimo, curioso que Bolsonaro tenha inventado essa perigosa aposta em manifestações justamente uma semana depois da autorização da Justiça de quebra de sigilo de Flávio. Se ele já tinha ou não informações prévias sobre essa possibilidade, é difícil saber. Mas que foi esse o grande tsunami que houve, não há dúvida. Que tipo de teste de popularidade Bolsonaro pretende, que tipo de confronto pode vir daí, só o tempo dirá.
Val Meliga, como é chamada Valdenice, é irmã dos gêmeos Alan e Alex Rodrigues Oliveira, que foram presos na Operação Quarto Elemento do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Ministério Público do Rio de Janeiro. Foram encontrados pelo menos dois cheques da campanha de Flávio assinados por Val, nos valores de R$ 3,5 mil e R$ 5 mil.
Um dos cheques assinados por Val foi para a empresa Alê Soluções e Eventos Ltda. Que pertence a ninguém menos que Alessandra. A empresa de Alessandra estava contratada para fazer a contabilidade da campanha de Flávio. E não apenas dele, mas de outros 42 candidatos do PSL no Rio. Além disso, Alessandra era funcionária do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, com um salário de R$ 5 mil.
Então, temos aí o seguinte. Um de cada cinco candidatos a cargo eletivo do PSL do Rio nas últimas eleições entregou a contabilidade da sua campanha para a hoje primeira-tesoureira do partido. Que era funcionária no gabinete de Flávio, que também a contratou. No mínimo, há aí uma complicada mistura de funções e responsabilidades.
Mas o cheque de Flávio que pagou Alessandra foi assinado por Val, irmã de milicianos.
Onde vai parar esse novelo, somente as investigações que se iniciam com as quebras dos sigilos vai dizer. Bolsonaro pai e Bolsonaro filho dizem que não há nada a esconder. Afirmam ser vítimas de uma perseguição do Ministério Público.
Só não dá para dizer que os dois não estejam preocupados. O presidente pede socorro à militância. No domingo, saberemos se esse socorro virá. E até onde tal fidelidade se estende.