O cenário foi tomado pela radicalização. Os extremos puxaram o eleitor de Centro. O fenômeno tem alcance internacional. O presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Lula comandam os dois polos opostos que caracterizam o cenário político brasileiro.
Pode ser que se trate de um fenômeno conjuntural, mas as forças políticas identificadas com o que se chama de Centro estão fora do jogo. A radicalização tomou conta do cenário eleitoral com a ascensão da direita no mundo. O eleitor de Centro foi capturado pelos extremos. No Brasil não é diferente. A política do governo Bolsonaro é inspirada na premissa do “ame-o ou deixe-o”. Não há espaço no atual estágio da democracia brasileira para partidos ou coligações que cultivem “uma no cravo e outra na ferradura”.
Os partidos centristas foram derrotados nas eleições de 2018 justamente por isso. A radicalização política está na ordem do dia. Os partidos centristas –MDB, PSDB, PSD, PP, DEM e PR– foram absorvidos e viraram integrantes da frente de direita liderada pelo presidente Jair Bolsonaro. Mesmo quando determinados integrantes destes partidos, por razões específicas, cheguem a demonstrar indignação contra decisões e anúncios pontuais feitos pelo presidente e seus ministros.
É preciso registrar. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso só não deu uma cutelada nas Universidades Federais porque preferiu usar sua musculatura para aprovar a reeleição. A redução dos territórios indígenas e das regras em defesa do meio ambiente sempre integraram o repertório da direita nacional. Mas nos anos recentes o centro político passou a simpatizar com esta visão e a concordar que chegou a hora de colocar um garrote em ambientalistas e indigenistas.
A radicalização não é um fenômeno nacional. A única coisa que nos diferencia do resto do mundo é o peso político que se quer dar àquilo que se chama de Centro. Hoje, por exemplo, esse Centro é liderado no Brasil por um político que há mais de uma década se proclama como militante da direita, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. O político carioca tenta formar uma aliança para que ele possa disputar o comando da direita. Seu objetivo não é comandar uma frente “nem lá nem cá”. As últimas eleições criaram dois polos no país, um de esquerda e outro de direita. Neste momento não há espaço para uma terceira via.
Esta foi a realidade nas recentes eleições no Chile e no México. Este é o quadro nas próximas eleições na Argentina e na guerra política em curso na Venezuela. Onde está o Centro? Submetido aos extremos. Nos Estados Unidos, este foi o quadro que se criou com a eleição de Donald Trump. A ala da direita assumiu o controle do Partido Republicano. Integrantes moderados deste partido avaliam migrar para o Partido Democrata. Este partido, defensor do mercado e da economia liberal, da manutenção de políticas sociais e a prática de costumes contemporâneos, é cada vez mais chamado de “socialista” e “comunista”.
Esta realidade também se refletiu na recente eleição espanhola. O PSOE retomou a direção da esquerda e a direita moderada (PP) perdeu terreno para a direita radical (Vox). Na Itália, a guerra direita x esquerda tem sido a regra nas últimas décadas. O atual governo é uma coligação do partido populista, “Movimento 5 Estrelas”, com o partido de extrema direita, a Liga Norte. Este, no passado recente, deu sustentação aos governos de Silvio Berlusconi. Seu adversário é o Partido Democrático.
Esta mesma radicalização existe no Reino Unido, na França e na Alemanha. Em todos, a direita é quem comanda. Sendo que o presidente francês, Emmanuel Macron, se elegeu, a exemplo de Jair Bolsonaro, apostando na crise de representatividade dos partidos tradicionais, liderados por Nicolas Sarkozy e François Hollande.
Aqui no Brasil existem dois polos. Um deles liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, que dirige uma frente de direita que está adquirindo organicidade. O outro de esquerda, ainda comandado pelo ex-presidente Lula (mesmo estando preso condenado por corrupção) e seu partido, o PT. O comando deste polo de esquerda esteve em disputa nas últimas eleições. Em 2014, com a candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB) e, em 2018, com a candidatura de Ciro Gomes (PDT). Ambos tinham como objetivo derrotar o PT e tirar de suas mãos o comando da esquerda.