Conselho de Churchill para Bolsonaro

Presidente Bolsonaro com Maia e Onyx. Foto Orlando Brito

Quando José Sarney era presidente da República e viajava para o exterior, o então senador Fernando Henrique Cardoso costumava ironizar: “A crise viajou”, dizia, apesar dos traços conciliadores do governo. Anos depois, ao ocupar o cargo uma das características de sua presidência foi saber reduzir as crises que entravam chegavam ao Planalto. Lula seguiu pelo mesmo caminho. Apesar da retórica inflamada dos palanques; os problemas saíam menores de sua sala. Michel Temer, um político forjado no Parlamento, sabia ouvir.

Erros e acertos aconteceram em todos esses governos. Mas no Brasil de Jair Bolsonaro a inapetência do chefe do Executivo para o exercício do cargo é inédita. Tanto quanto sua voracidade para a polêmica inútil e desastrada. Os efeitos desse estilo são tóxicos para o país — e para a democracia.

O discurso antipolítica que levou o capitão reformado do Exército ao poder foi eficiente como estratégia eleitoral. Depois de dois meses e 25 dias na cadeira presidencial, porém, Bolsonaro já deveria ter percebido que a narrativa não lhe serve mais. Ao contrário, ela o aprisiona. Mas não se deu conta. Ele insiste: bate-boca com inimigos e aliados pela imprensa e pelas redes sociais. E ignora tarefas básicas, como a de se relacionar com os demais poderes e de defender os projetos de sua gestão.

Ao afirmar que “fez sua parte” ao enviar ao Congresso o projeto de reforma da Previdência — a essência de seu mandato — e ao negar a ideia de negociar com os partidos políticos, o presidente mostra ignorância sobre sua principal missão, a Política. Prefere confundi-la com corrupção, desinformando a população e desvirtuando a atividade que construiu o que hoje se denomina sociedade. Como já definiram alguns, uma das mais belas invenções do homem.

Bolsonaro ainda tem tempo para mudar de rota e salvar seu governo. Hoje, não tem base parlamentar nem votos para aprovar as mudanças nas aposentadorias. Precisa trabalhar e seguir o conselho de um de seus alvos dos últimos dias, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia: largar o Twitter. Não deve faltar serviço para ocupar o tempo.

Em sua primeira fala depois de eleito, Bolsonaro afirmou que mudaria o destino do Brasil. Estava atrás de uma mesa em que pousavam a Constituição, as ideias de Olavo de Carvalho e as memórias de Winston Churchill. Para cumprir sua promessa, duas dessas obras deveriam ir para a mesa de cabeceira. Primeiro, a Carta que jurou respeitar. Churchill também pode ajudar com um de seus famosos conselhos: “Os que falam de revolução têm que estar preparados para a guilhotina.”

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